Arquitetura
Selma Melo Miranda
A Arquitetura moderna é a expressão visível da Unidade entre a arte, a
ciência e a industria. A novidade do movimento moderno residiu no uso dos
novos materiais de técnicas de construção tornadas disponíveis pelo
desenvolvimento industrial. Em Cataguases, a Arquitetura moderna exprimiu,
também, a fé renovada na razão ao conjugar os verbos simplificar e
concentrar. Se o modernismo é parte e reflexo do avanço científico e
tecnológico, da era do ferro, do aço e das telecomunicações, a
Arquitetura é a área da produção cultural em que arte e técnica -
modernismo E modernidade - são obrigados a se unir.
Introdução
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Casa de Franscisco Inácio Peixoto - Projeto Niemeyer
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Cataguases teve suas primeiras experiências com a arquitetura moderna no
início dos anos 40, no momento mesmo em que esta se afirmava no Brasil e
definia uma linguagem própria que a destacaria no panorama da produção
mundial.
O Rio de Janeiro estava ainda às voltas com a construção do edifício
do Ministério da Educação, mas o esforço despendido desde os últimos
anos da década de 20 havia frutificado através do reconhecimento oficial
e da consagração internacional que se consolidava.
Até então a batalha pela renovação arquitetural havia produzido muitos
manifestos, experimentos isolados debates acirrados,reflexões e contatos
com as vanguardas européias. A questão figurava já entre as
preocupações dos modernistas da primeira hora, mas a concretização de
um movimento consistente levaria ainda algum tempo para se efetivar.
Esse caminho lento da modernidade arquitetônica, na realidade, se insere
em quadro mais complexo que implica diversos fatores relacionados às
peculiaridades da produção da obra de arquitetura. Nele se incluem não
só o talento criativo mas a participação financeira do cliente, o
domínio de nova tecnologia e novos materiais e aparelhamento industrial
para viabilizar uma realização em nova escala. Carlos Lemos nos chama a
atenção para diferença existente entre uma pintura, ou uma escultura, e
um edifício que não pode, como aqueles, ser guardado em atelier à
espera de um possível comprador. (I)
De resto, o ecletismo havia renovado a cidade e a arquitetura do século
XIX, seguindo o movimento das capitais européias, e conquistando uma
sólida posição como linguagem adequada `da expressão da época.
Até o final da década de 20 a Escola Nacional de Belas Artes e os
arquitetos estão às voltas com o neocolonial como alternativa à
importação de modelos estilísticos do passado.
Enfim é somente a partir da consolidação do grupo de arquitetos
modernos do Rio de Janeiro e do apoio oficial às suas propostas que a
nova arquitetura define seu caminho. A afirmação e difusão dessas
propostas virão através das obras realizadas por esses arquitetos na
então Capital Federal e em outros Estados que serão chamados a
trabalhar.
Cataguases e Belo Horizonte participam logo na primeira etapa desse
processo. Praticamente ao mesmo tempo em que Kubitschek convida Oscar
Niemeyer para projetar o conjunto da Pampulha, Francisco Peixoto encomenda
ao arquiteto o projeto de sua residência e, pouco depois, o do Colégio
de Cataguases.
No espaço de uma década construiu-se nesta cidade um acervo
arquitetônico notável, ampliado na década de 50 por inúmeras outras
realizações. Em sua concretização participaram arquitetos de primeira
grandeza no quadro da nova arquitetura, como Aldary Toledo, Carlos Leão,
Francisco Bolonha, Flávio de Aquino e Edgar do Valle, além de Niemeyer.
Tudo isso vem na esteira do movimento verde, que desde os anos 20 havia
ligado Cataguases de modo definitivo à trajetória do modernismo
brasileiro. Esse segundo tempo das experiências modernistas na cidade,
entretanto, apresenta uma característica que o distingue da primeira
iniciativa, e deriva do processo de afirmação da arquitetura moderna
brasileira: não há produção local no primeiro momento.
Outros pontos de contato entre esse processo e o modernismo arquitetônico
cataguasense podem ser identificados. Entre eles se destacam a presença
do mecenato, o esforço consciente de renovação e a utilização da
propaganda e do reconhecimento nacional como meio de afirmação e
difusão. Há. Ainda, um aspecto importantíssimo trazido pela convicção
de que a reformulação artística e arquitetônica constituía um
poderoso instrumento de transformação da sociedade.
No caso da arquitetura isso está explícito no discurso de Lê Corbusier,
o grande mestre da geração modernista brasileira:
"Somos infelizes por habitar casas
indignas porque elas arruínam nossa saúde e
nossa moral . (...)
No entanto, a ARQUITETURA existe.
Coisa admirável, a mais bela.
O produto de povos felizes e o que produz povos felizes.
As cidades felizes têm
arquitetura." (2)
O arquiteto se dirige aos industriais, engenheiros, intelectuais e
arquitos. Aos artistas apela: "Senhores pintores e escultores, (...)
limpem suas casas, unam seus esforços para que se reconstruam as
cidades." (3)
A ação de Francisco Peixoto, escritor, industrial , modernista veterano,
ao nosso ver, se inscreve nessa linha. Apoiado pelo amigo Marques Rebelo e
por diversos fatores circunstanciais empreende a partir dos anos 40 a
imensa tarefa de renovação da cidade.
Os primeiros programas arquitetônicos por ele propostos já nos permitem
refletir sobre a natureza de sua motivação e os objetivos de suas
iniciativas. A casa representa a mudança na esfera doméstica e a escola
remete ao âmbito público, como elemento de formação de uma nova
mentalidade. Define-se, portanto, uma estratégia que busca alcançar dois
alvos: o pequeno círculo da elite cataguasense e representante das
forças sociais e políticas.
Os demais projetos confirmam essa preocupação- casa de saúde , museu,
maternidade, hotel, cinema, fórum, industria - enfim, conjuntos de
habitações para empregados da fábrica. Da mesma forma que Lúcio Costa
e Niemeyer sonharam ver o motorista e o ministro de Estado morando na
mesma quadra em Brasília, Peixoto e Rebelo teriam também acalentado o
ideal de os milionários e os operários habitarem a mesma
arquitetura.
Não se tratava, portanto, da mera reprodução dos modelos vanguardistas
em voga nas metrópoles como afirmação da contemporaneidade de um
restrito grupo de intelectuais, artistas e burgueses. Havia um propósito
transformador que buscava atingir profundamente as estruturas
sócio-culturais e políticas da cidade, como forma de alterar-lhe os
rumos e promover o desenvolvimento social através dos benefícios que a
era moderna poderia trazer.
As circunstâncias favoreciam as iniciativas apesar das dificuldades da
tensa situação mundial. Contava-se com um parque industrial em
expansão, uma intelectualidade afinada com o modernismo que, embora
dispersa, possuía laços estreitos com a cidade, uma burguesia em
ascensão suscetível de sensibilizar-se com as propostas modernas, e as
sólidas bases econômicas e políticas da família Peixoto. Além disso,
havia também o interesse dos arquitetos e artistas em divulgar seu
trabalho e as repercussões do apoio oficial à nova arquitetura
brasileira e de sua projeção no contexto arquitetônico internacional.
A par dessa cadeia de fatores, Francisco Peixoto trabalhou arduamente e
empregou todo seu prestígio pessoal e extraordinária tenacidade nos empreendimentos, tornando-se a personalidade-chave do processo.
As realizações arquitetônicas e urbanísticas falam por si e
representam momentos extremamente fecundos na experiência brasileira. É
nossa intenção aqui repensar esses momentos em uma primeira leitura da
produção arquitetural cataguasense, deixando o caminho aberto a
desenvolvimentos posteriores.
A cidade e a arquitetura até os anos 40.
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Cataguases - Praça da Matriz - Década de 1940
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Nascida nas primeiras décadas do século XIX, a partir de uma estratégia
de controle fiscal e ocupação territorial, Cataguases apresenta lento
desenvolvimento até os anos 70 daquele século, quando a expansão da
lavoura cafeeira e a chegada da ferrovia alteram inteiramente o quadro da
vida regional.
A incipiente povoação formada nos primeiros tempos não passa ainda,
nessa época , de uma pequena aglomeração urbana com menos de quinhentos
habitantes. Duas praças e meia dúzias de ruas formam a então Vila de
Santa Rita do Meia-Pataca.
A posição da cidade como ponta de trilhos favorece a expansão agrícola
e comercial. Não é difícil imaginar o que significa a estrada de ferro
para a vida local. Inicia-se o processo de formação da nova cidade, com
grande movimento, gente chegando de todos os lugares, novas informações,
novos programas arquitetônicos, nova linguagem formal.
O trem traz notícias de fora, telhas da França, lambrequins, artigos de
toda espécie, imigrantes, técnicos, autoridade e muita gente comum que
vem tentar a vida na cidade promissora. Ao lento caminhar das tropas de
burros se opõe a prodigiosa velocidade das máquinas a vapor
transformando tudo e ligando Cataguases rápida e diretamente à capital
do país. No bojo das transformações vem até uma nova língua; As
sinhazinhas tornam-se "demoiselles", as casas "chalets",
as lojas "magasins".
A trama urbana sofre um deslocamento imediato, puxada para dentro do Vale
pela Estação, que torna-se o novo elemento polarizador de todo o
movimento. Uma intensa atividade construtiva corresponde à nova realidade
econômico-social. O ecletismo arquitetônico passa a pontuar aqui e ali a
paisagem urbana, transformando a radicalmente. Os "melhoramentos e
embelezamentos urbanísticos" tão próprios do período são
prioridade para a administração municipal e para o conjunto dos
cidadãos.
Serviços de abastecimento de água, esgoto e calçamento das principais
vias são realizados. A iluminação pública, essa maravilha da
civilização, foi instalada. A arborização, aspecto essencial nas
reformulações urbanas, faz espalhar oitis e magnólias pelas ruas
principais. A Praça de Santa Rita e o Largo do Comércio, hoje Praça Rui
Barbosa, recebem os primeiros jardins da cidade e importantes edifícios
públicos e comerciais.
Tudo isso segue de perto o movimento dos grandes centros urbanos,
especialmente o Rio de Janeiro. Ali, nos primeiros anos do século atual,
rasgava-se a cidade com a Avenida Central. No centro do Estado de Minas
construía-se a nova capital- uma metrópole com os reflexos do urbanismo
haussmaniano, a erradicar os velhos esquemas do período colonial,
"uma época de dolorosa vergonha."(5)
Em Cataguases, na segunda década desse século,os principais edifícios
públicos estão construídos e multiplicam-se os estabelecimentos
comerciais. A atividade fabril amplia-se e aponta um novo caminho que
afetará profundamente a vida da cidade.
A vida social em lá o seu quê de européia. Um ar cosmopolita. Fala-se
francês nas reuniões sociais. Os homens se reúnem no "clubs"
e as casas comerciais oferecem artigos de toda procedência. O Bar
Luzo-Basileiro é freqüentado pelo "escol da sociedade de Cataguases",
enquanto as "demoiselles"se reúnem no Café Cascata. No
Commercial Club dançava "a mais fina elite"(6) e nas galerias
do Teatro todos compartilham o deleite cultural. Já se incrementava
também o gosto pelo debate cultural nas reuniões do Grêmio Literário
Machado de Assis.
A reformulação arquitetural se espalha principalmente no Largo da
Estação e nas praças centrais.Para compreendermos o significado das
transformações é importante salientar alguns aspectos básicos ligados
à introdução e difusão do ecletismo no Brasil.
Prefeitura Municipal de Cataguases
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Prefeitura Municipal de Cataguases
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A nova linguagem arquitetônica se insere em um quadro de mudança da
sociedade brasileira que implica um esforço de organização em diversos
níveis. A cidade e a arquitetura assumem papéis especiais e devem
espalhar uma nova ordem. A modernização, o embelezamento, o saneamento
significam credibilidade, investimentos e mão-de-obra qualificada, para
garantir ao Brasil o "...ingresso ao mundo do moderno capitalismo
internacional e, ao mesmo tempo, estabilizar e fortalecer o regime que
neste modelo se identifica."(7)
Os programas arquitetônicos refletem essa nova ordem social - palácios
de governo e da justiça,escolas e teatro. A industrialização colocava
no mercado novos materiais e tecnologia, rapidamente distribuídos pelas
ferrovias a todos os centros urbanos por ela ligados. Paris determina os
rumos da transformação e é o centro cultural por excelência.
Quanto à expressão formal, a definição dos estilos a adotar deveria se
dar de acordo com a natureza dos programas arquitetônicos. A arquitetura,
que no Império deveria "sugerir, inspirar, comover", "...
cabe agora o papel de "representar" (...).o que mais importa, é
que cada edifício seja logo reconhecível como "o museu",
"a ópera", "o banco", "o palácio do
governo"de uma grande capital."(8)
Casa Av. Astolfo Dutra
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Atual Museu da Eletricidade
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Casa Avenida Astolfo Dutra
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Os centros urbanos menores se esforçam por seguir pegadas das cidades
mais importantes. Em Cataguases, a construção da matriz neogótica,
projetada por Augusto Rousseau em 1894, é acompanhada pela reconstrução
dos jardins da praça. Aí se instala também o Palácio da
Municipalidade, iniciado em 1893, segundo o projeto de Agostinho Horta
Barbosa.
No Largo do Comércio, uma grandiosa construção mostra a import6ancia do
teatro na cidade. Inaugurado em 1826, o edifício apresentava rigorosa
simetria e um ar de majestade no pórtico avançado sobre colunas e no
frontão decorado por esculturas.
Grupo Escolar Coronel Vieira
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Grupo Escolar Coronel Vieira
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Outras obras públicas ostentam a nova linguagem arquitetônica como o
Grupo Escolar Coronel Vieira, inaugurado em 1913, e o Hospital projetado
seis anos depois por George Bourgeois. Em algumas construções guardou-se
o compromisso com o passado colonial, mesclado a uns poucos elementos
ecléticos, como no Ginásio e Escola normal (1910) e, ainda, no Colégio
de Nossa Senhora do Carmo.
Os estabelecimentos comerciais apresentam, também, estilemas variados,
ora em partidos mais galantes, ora mais severos, marcados apenas por
pilastras, entablamentos, platibandas e vãos em arco pleno, em
composição discreta. Destacam-se o Banco de Cataguases, depois Hotel
Villas, construído em 1893; o Palacete Passos, antiga sede do Banco do
Brasil; e a Casa Carcassena, inaugurada em 1917 e demolida há alguns
anos. Entre os exemplares remanescentes da arquitetura industrial citamos
o estabelecimento do Coronel João Duarte e a Fábrica Irmãos Peixoto
(1905), ambos nas proximidades da Estação.
Na arquitetura residencial aparece desde cedo a moda, inaugurada no Rio de
Janeiro pouco tempo antes, dos elegantes chalés soltos em meio aos
jardins, incorporando todas as novidades de implantação, organização
espacial, e detalhes construtivos e ornamentais. A chácara de Dona
Catarina é um bom exemplo que lamentavelmente perdeu os lambrequins
rendilhados que arrematavam os beirais.
Cataguases
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Atual Museu da Eletricidade
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Difunde-se muito o tipo de casa urbana com porão alto, jardim lateral,
varanda em perfis metálicos e fachada implantada no alinhamento
arrematada por platibanda. Esse esquema básico desdobra-se em versões
modestas ou mais monumentais. Alguns exemplares remanescentes podem se
vistos na Avenida Astolfo Dutra, na casa nº 31, e na Rua Coronel Vieira,
nº 35.
Nas áreas de maior adensamento no centro da cidade, as casinhas, mais
apertadas, possuem apenas um
corredor lateral de serviço. Os vãos estreitos e altos rasgam quase toda
a fachada, e muitas vezes a platibanda e os ornamentos encobrem, ainda, o
velho telhado colonial. Em várias ruas sobrevive a antiga implantação
sobre o alinhamento e divisas laterais, com as unidades em correnteza,
formando fachadas contínuas simplesmente vestidas com ornamentos
ecléticos.
No plano do urbanismo, a década de 20 traz a continuidade da ocupação
de novas ruas e avenidas, e mostra alguma expansão além do tecido urbano
localizado no terraço entre o Pomba e o Meia-Pataca. Intensifica-se a
atividade construtiva na Avenida Astolfo Dutra uma espécie de avenida
paulista-paulista-cataguasense onde os maiorais do lugar constroem seus
palacetes.
Atual
Instituto Francisca de Souza Peixoto
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A apreciação da imprensa local sobre o desenvolvimento da cidade é
bastante favorável . Esse otimismo vem particularmente da afirmação
gradativa da Indústria. A fábrica de tecidos dos Irmãos Peixoto,
considerada uma "glória da (...) urbs", encontra-se em
ascensão e existe uma convicção de que a atividade industrial é "
...que virá concorrer na medida de suas forças para o progresso de
cataguazense. "(9)
Na arquitetura surgem novas expressões formais com a imitação e os
desdobramento do "estilo Missões" e as reproduções de modelos
trazidos pelo cinema e por revistas importadas, a exemplo da residência
da Rua Tenente Fortunato, construída em 1925 para Inácio Duarte, e da
casa de Pedro Dutra.(10)
Projeto de Bolonha
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Vista atual da vila operária da CIC
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Em paralelo à construção desses "magníficos prédios"
verifica-se a incrementação da atividade construtiva mais modesta das
vilas operárias, registrando-se pequena expansão na Vila Tereza e na
Vila Minalda. A Vila Domingos Lopes, na proximidades da estação
ferroviária, existia já desde os primeiros tempos da ferrovia e
consolidará a ocupação urbana naquela direção . A Vila Reis
desenvolvida ao longo dos trilhos na saída para Vista Alegre, também
antiga, tem pequeno desenvolvimento e estará praticamente estagnada na
década de 50. (11)
A afirmação do destino industrial da cidade virá nos anos 30 e se
consolidará definitivamente a partir da década seguinte. A trama urbana
se amplia e gradativamente se adensam as construções na área central da
cidade. Abandonando as áreas planas já ocupadas, a expansão urbana se
dá em direção aos morros e seguindo os trilhos da ferrovia, já se
contam sete vilas operárias, entre as quais se destaca o Bairro Jardim em
interessante disposição a cavaleiro da Industrial Cataguases .
Quanto à arquitetura, os anos 30 trazem o Art-Déco, que, à mesma época
se difundia em todas as cidades grandes, tanto em edifícios públicos e
comerciais,quanto em residências. A renovação "futurista"
teve boa acolhida em Cataguases e, mesmo atropelada pela repenteina
chegada da arquitetura moderna , conheceu desdobramentos em que quase toda
a década de 40.Suas características gerais estão exemplificadas na
residência nº 490 da Avenida Astolfo Dutra, na Capela de Nossa Senhora
do Carmo, e nos edifícios do Correio, do Banco Nacional e do antigo Banco
Hipotecário, estes últimos, situados na Praça Rui Barbosa.
Os projetos são geralmente elaborados por engenheiros da cidade como
Manuel Bráulio Barroca e Tácito Andrade . Participam também
profissionais de outras cidades a exemplo do engenheiro Romeo de Paoli,
autor do projeto do citado Banco Hipotecário de Cataguases e de extensa
obra em Belo Horizonte, que inclui os edifícios do Minas Tênis Clube,
Colégio Santo Agostinho e Monte Calvário, e do antigo Centro dos
Chauffeurs. (12)
Já o neocolonial pouca repercussão teve em Cataguases, aparecendo
tardiamente, por exemplo, no novo edifício da Escola Normal Nossa Senhora
do Carmo. Enfim, a arquitetura produzida na cidade nos momentos
imediatamente anteriores à introdução do modernismo acompanhava, em
suas linhas gerais, a evolução arquitetônica das principais capitais do
país.
Cataguases e a arquitetura moderna. |
Francisco Inácio
Peixoto
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No início dos anos 40, ao projeto da residência Francisco Peixoto,
seguem-se logo outros de natureza pública e particular de modo que na
virada da década boa parte do acervo arquitetônico moderno da cidade já
está consolidada.
As obras espelham os postulados básicos da nova arquitetura: a
racionalidade dos partidos, as estruturas em concreto armado e os pilotis,
a liberdade de plantas e fachadas. Está presente também aquele sentido
plástico característico das realizações arquitetônicas brasileiras
que se expressou, não somente na composição e tratamento dos volumes e
superfícies e no emprego das formas curvas, mas também na integração
das artes plásticas e do paisagismo.
Casa de Francisco
Inácio Peixoto - Projeto Arquitetônico de Oscar Niemeyer (1940)
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O Colégio teve projeto concluído por Niemeyer em 1944, simultaneamente a
dois outros empreendimentos de profundas ressonâncias na vida da cidade -
a Igreja Matriz, projetada por Edgar Guimarães do Valle em 1943, e a Casa
de Saúde , concebida por Niemeyer.
Tanto a residência Francisco Peixoto, quanto o Colégio, apresentam os
mesmos princípios em sua concepção arquitetônica. De acordo com Oscar
Niemeyer a casa é "...simples,confortável e bem resolvida...",
enquanto o projeto da escola tem também"... uma solução muito
simples, que não pede explicação. É um colégio com Arquitetura
correta e moderna, uma obra econômica..."(13)
Ambos foram concebidos a partir de um volume retangular apoiado sobre
pilotis e laçado em meio aos jardins de Burle Marx enriquecidos por
esculturas. Na casa destacamos a integração dos ambientes internos e
externos e as soluções da área fronteira e do pátio interno. No
colégio assinalamos o jogo do volume e da marquise, esta mostrando as
pesquisas pláticas niemeyrianas em concreto armado, e a disposição do
pavimento térreo com a seqüência de pilotis, o painel de Paulo Wernëck
e o hall onde se destaca o célebre mural de Portinari.
Importante elemento para a difusão da arquitetura moderna na cidade, a
Igreja Matriz teve, entretanto, construção tumultuada em processo
iniciado em 1944 e concluído somente em 1968. É evidente a aproximação
do partido arquitetônico adotado ao de São Francisco da Pampulha, mas a
transposição da pequena escala da capela franciscana a um programa de
maiores dimensões e uma aparente preocupação com a ousadia plástica
levaram o arquiteto a um certo rebuscamento na composição dos volumes e
na definição das proporções, distanciando-se muito da pureza
arquitetural da magnífica obra belorizontina de Niemeyer.
As dificuldades com a construção levaram dois aspectos importantes. Por
um lado, ainda não era tarefa simples armar uma grande e complexa
estrutura em concreto sem onerar excessivamente o empreendimento. O
problema técnico-financeiro foi comum a diversas obras, a exemplo do
famoso edifício considerado o marco da arquitetura moderna brasileira, a
respeito do qual Mário de Andrade observou:
Colégio Cataguases |
Colégio Cataguases |
Colégio Cataguases |
"O tempo e o dinheirão enormes que se
esperdiçaram no Ministério da Educação, é
um erro de arquitetura.
É um defeito arquitetônico que ficará
Sempre "afeiando" o admirável edifício". (14)
O outro aspecto refere-se à hipótese da resistência da sociedade local
em relação a uma igreja moderna, não só pelo novo aspecto formal mas
também pelo significado da matriz neogótica no que respeite a memória
da população cataguasense. De resto, basta ver o qüiproquó surgido com
a igrejinha da Pampulha para supor a grande polêmica que deve ter
ocasionado o projeto moderno da Santa Rita da cidade. (15)
Contudo, outras obras modernas eram planejadas e nada poderia deter a
renovação em Cataguases. Em 1945, Peixoto e Marques Rebelo discutiam já
a construção de um edifício destinado a um cinema e um clube nos moldes
do programa arquitetônico do antigo Teatro Recreio. Registra-se, na
ocasião, o desaconselhamento de Rabelo, motivado pelos riscos de um
grande investimento praticamente sem retorno na época. Uma das
alternativas levantadas para superar os problemas econômicos seria a
construção de cinema e comércio, ou cinema e hotel. (16)
Igreja Matriz de Santa Rita |
Igreja Matriz de Santa Rita |
Igreja Matriz de Santa Rita |
Nota-se claramente a intenção de transformar a cidade mediante um
processo que, logo de início, envolve edifícios de grande significado
simbólico como a igreja e o teatro. Revela-se, portanto, uma
característica do movimento da nova arquitetura que consiste na
implicação da reformulação arquitetônica à rede simbólica de um
modelo político. Em Cataguases, uma circunstância especial se coloca
neste sentido, quando o fim do período Vargas abre as eleições diretas
à Prefeitura e o primeiro prefeito eleito é João Inácio Peixoto que,
exercendo esse seu primeiro mandato de 1947 á 1951, apoiará iniciativas
de Francisco Peixoto.
Nesse quadro, a par dos programas públicos há também a preocupação
com a renovação urbanística. Já em 1945, Rabelo envia a Francisco
Peixoto "... umas coisas curiosas sobre urbanização..."e,
alguns anos depois, um projeto para a cidade elaborado provavelmente por
Aldary Toledo. Declarando que " Cataguases nunca será nada sem
ele", Rebelo incita Peixoto a convencer a administração local a
realizá-lo, inclusive através de empréstimos, se necessário. O
escritor argumenta: "As Prefeituras devem fazer empréstimos para
construir obras para o povo. O povo não tem nada . E vocês nunca mais
perderiam eleições."(17)
Fica clara, portanto, a partição direta de Marques Rebelo e o seu
empenho pessoal no projeto de transformação da arquitetura e da cidade,
ao lado de Peixoto. A idéia da condução dos destinos da cidade
distanciada de um movimento mais amplo da sociedade era comum ao movimento
da nova arquitetura brasileira. Lúcio Costa observa a respeito da obra
dos arquitetos modernos que "conquanto se antecipasse ao
desenvolvimento cultural do ambiente , ela se ajusta e integra facilmente
ao meio , porque foi conscientemente concebida com tal
propósito."(18)
Dois outros projetos idealizados por Peixoto e Rebelo remetem às suas
preocupações sociais.Por um lado pretendia-se construir o espaço
sagrado de difusão da arte - o Museu de Belas Artes de Cataguases - que
complementaria o caminho educativo lançado com o Colégio. Por outro,
procurava-se viabilizar uma proposta de natureza sócio- cultural
incluindo restaurante popular, biblioteca, discoteca, armazém de
subsistência e salão de barbeiro:"(19)
Sobre o Museu parece ter havido a intenção de o projeto ser elaborado
por Flávio de Aquino, mas o processo não teve continuidade e a
exposição foi instalada no Colégio Cataguases. Quanto ao centro social
chegou a ter projeto do arquiteto Aldary Toledo e possibilidade de
realização através de um programa nacional. Rebelo se mostrava
imensamente entusiasmado com o empreendimento que se poderia desdobrar em
outros tantos projetos na área de nutrição e assistência social. O
escritor declara ter tido uma idéia a respeito do projeto:
"É fazer de Cataguases uma zona
experimental de coisas de nutrição
(...)seriam organizadas granjas, nos arredores
da cidade para melhor
abastecer o restaurante e a própria
cidade. Iriam imigrantes (...)
visitadoras,nutrólogos, sociólogos,
médicos, gente de laboratório..."(20)
O projeto não foi realizado, mas nesse final da década de 40,
concretizam-se outros importantes empreendimentos como o Hotel e o
Conjunto da Maternidade e Hospital Infantil, respectivamente elaborados
por Aldary Toledo e Francisco Bolonha. Ambos trabalharam muito na cidade,
praticamente dominando a produção arquitetônica moderna dos anos 40 e
50. Bolonha inicialmente integrava a equipe do escritório de Aldary, que
lhe teria transmitido os princípios da nova arquitetura, conforme se
expressa o próprio arquiteto.(21)
O projeto do Hotel contou com a parceria de Gilberto Lemos, e a obra,
inaugurada em 1951, apresenta uma bela composição, em que um volume
simples se conjuga aos jardins e a marquise em vôo, seguindo o partido
básico adotado por Niemeyer no Colégio . A Maternidade, inaugurada no
mesmo ano, traz a caligrafia de Bolonha na elegância e variedade do
repertório formal com o emprego de diferentes texturas e o jogo de massas
reentrantes e salientes, a que se avalia a funcionalidade da solução
espacial. Ambas as obras são muito bem resolvidas e apresentam clareza na
disposição arquitetônica geral.
Os arquitetos se responsabilizam também por várias residências. Em
meados da década de 40, Aldary Toledo desenvolve os dois primeiros
projetos residenciais após a pioneira construção da casa de Francisco
Peixoto. Um deles, elaborado para José Peixoto, não foi executado,
enquanto o outro, realizado para José Pacheco de Medeiros em 1946, teve
obra concluída no ano seguinte. Para a residência José Peixoto foi
encomendado um novo projeto a Edgar Guimarães do Valle.
Novos clientes surgiram e a procura de arquitetos no Rio de Janeiro era,
por vezes, intermediada por Marques Rebelo, a exemplo do projeto da casa
de Serafim Lourenço, para o qual havia sido contratado o arquiteto Jorge
Moreira. Mediante a recusa deste, a residência foi projetada por Flávio
de Aquino, arquiteto e critico de arte respeitado no movimento da
arquitetura moderna brasileira.
Essas obras assinalam um momento de afirmação das novas propostas no
âmbito da arquitetura residencial cataguasense. Tanto a valorização dos
ambientes, dispostos em vários níveis e magnificamente integrados aos
jardins e varandas na casa José Pacheco, quanto a bela composição da
fachada da casa José Peixoto com a superfície ondulada que recebe o
painel de Paulo Werneck, mostram o apuro das soluções arquitetônicas.
De resto, a habilidade no emprego dos materiais, buscando realçar suas
qualidades plásticas, o desenho cuidadoso dos detalhes, as concepções
paisagísticas e as contribuições da pintura e da escultura, marcam a
produção arquitetônica de Cataguases e estão presentes mesmo nos
programas menores e de execução mais econômica .Destacam-se neste caso
os trabalhos de Francisco Bolonha e, entre eles, as casas da Rua dos
Estudantes, projetadas em 1948.Limitado por diversos condicionantes o
arquiteto deu uma excelente solução que mostra uma linguagem criativa e
deixa entrever a influência da arquitetura do mestre Lúcio Costa.
Na virada dos anos 40,Bolonha desenvolve vários outros projetos como a
Capela de São José Operário, não construída, e provavelmente as casas
operárias que figuram em matéria especial sobre Cataguases publicada na
Revista O Cruzeiro, sobre as quais não conseguimos informações
precisas.(22)
Temos aqui dois aspectos televantes, ambos já anteriormente assinalados.
O primeiro diz respeito ao interesse em estender a moderna arquitetura aos
conjuntos das casas operárias via Companhia Industrial Cataguases,
pertencente à família Peixoto. Nesse sentido Bolonha projeterá também,
nos primeiros anos da década de 50, o conjunto do Bairro Jardim, anexo à
vila operária já existente.
O segundo diz respeito ao esforço para divulgação da cidade e sua
arquitetura. Peixoto e Rebelo conseguem espaço para Cataguases em várias
publicações mas a consagração definitiva vem em 1952 com a matéria
publicada pela revista L'Architecture d'Aujoud'Hul, uma das mais famosas
revistas especializadas de arquitetura.(23)
Residência José Peixoto
Jardim e Fachada Principal
Arquiteto:Edgar Guimarães do Valle
1948 (projeto)
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Conjunto Habitacional
Arquiteto: Francisco Bolonha
(meados da década de 50)
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Grupo Coronel Vieira
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Edgar Cine Teatro
Mezanino do salão de festas
Arquitetos: ALdary Toledo e
Carlos Leão
1953 (conclusão da obra)
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Sob o titulo "Audaces d'Architecture et d'Art" reúnem-se, em
várias páginas, um artigo sobre a cidade e quase todos os projetos
executados até então. O efeito da publicação foi extremamente positivo
e Cataguases entra novamente na cena nacional em desdobramento do
episódio verde. As conseqüências se fazem sentir em diversos níveis,
implicando uma questão importante levantada por Mário de Andrade no
inicio da década de 40, à época de Brazil Bullds, publicação
americana dedicada à nova arquitetura brasileira. Diz Mário sobre a
iniciativa do Museu da Arte Moderna de Nova York:
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"Eu creio que este é um dos gestos de
humanidade mais fecundos que os Estados
Unidos já praticaram em relação a nós, os
brasileiros. Porque ele virá, já veio, regenerar a
nossa confiança em nós e diminuir o
desastroso complexo de inferioridade de
mestiços que nos prejudica tanto. (...) Essa
consciência de nossa
normalidade humana só mesmo os
estrangeiros é que nos podem dar.
Porque nós, pelo mesmo complexo de
inferioridade, reagimos caindo num
por-que-me-ufanismo idiota, ou num
jeca-tatuísmo conformista e
apodrecente." (24)
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Residência Nanzita Salgado
Fachada principal
Arquiteto: Francisco Bolonha (1958)
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Residência Nanzita Salgado
Estar, rampa e mezanino
Arquiteto: Francisco Bolonha
1958 (conclusão da obra) |
Residência Nanzita Salgado
Estar, rampa e mezanino
Arquiteto: Francisco Bolonha
1958 (conclusão da obra) |
Os anos 50 abrem-se, portanto, com boas perspectivas. Novos
empreendimentos são planejados e construídos, e transforma-se
gradativamente a paisagem na qual, pouco tempo antes, se destacavam
solitários em meio ao ecletismo dominante a casa Peixoto e o edifício do
Colégio.
Algumas obras são terminadas, a exemplo do cinema que vem sobre as
cicatrizes da demolição do antigo teatro. Inaugurada em 1953 com projeto
de Audary Toledo e Carlos Leão, a obra se destaca pela qualidade da sua
arquitetura ressaltando-se, entre outras virtudes, o plano do salão do
clube, no pavimento superior, com a bela solução sinuosa da laje do
mezanino. Apesar dos méritos do novo edifício, entendemos que a
demolição do teatro representa uma perda lamentável, tanto por sua
significação arquitetônica quanto, e principalmente, por seu valor como
referência cultural da cidade.
Entre as obras residenciais executadas na década por arquitetos cariocas
destacamos a magnífica residência Nanzita Salgado, que traz a marca do
talento de Francisco Bolonha. A concepção monumental do interior com o
jogo de rampas e a solução em L das áreas de estar envolvidos com o
jardim, é denominada pelo painel de Marcier e enriquecida com o
mobiliário de Tenrero. Na fachada, a composição de texturas variadas-
cerâmicas, pedras, tijolo de vidro, treliça, a modulação rigorosa das
esquadrias e a assimetria do pilar em V contraposto à linha obliqua do
painel de Anísio Medeiros, fazem dessa obra um exemplo fascinante da
plástica arquitetural de Bolonha.
Exemplos da arquitetura residencial são ainda, a casa de Hugo Lanna,
projetada por Edgar do Valle, e vários projetos do arquiteto Luzimar
Cerqueira de Góes Telles, que passa a compartilhar a clientela de
projetos ao lado dos arquitetos pioneiros.
Educandário Dom Silvério
Aspecto parcial da fachada princial e jardim.
Arquiteto: Francisco Bolonha
1954 (conclusão da obra)
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Praça Rui Barbosa - coreto
Arquiteto: Francisco Bolonha
(meados da década de 50)
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Praça José Inácio Peixoto
Aspecto do conjunto
Arquiteto: Francisco Bolonha
(meados da década de 50)
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Praça José Inácio Peixoto
Aspecto do conjunto
Escultura de Bruno Giorgi
Painel de Portinari
executado por Américo Braga |
Diversas outras obras são executadas. Aldary Toledo projeta a Capela de
Nossa Senhora do Rosário, provavelmente no início da década, mas a
solução original sofreu modificações em obra que não estava
concluída nos anos 70, Francisco Bolonha se destaca por inúmeras
realizações, como o Orfanato Dom Silvério, bela e correta obra
inaugurada em 1954, onde o arquiteto teve também como parceiros os
artistas Marcier e Anísio Medeiros.Salientaram-se ainda o Coreto da
Praça Rui Barbosa e o excepcional monumento a José Inácio Peixoto,
construído em 1956.
All se expressa magnificamente a síntese entre a arquitetura, as artes
plásticas e o paisagismo. O arquiteto empregou formas simples, livres,
que ao se interpenetrarem criam um espaço harmonioso, solene e de alto
requinte visual. A solução arquitetônica envolve e destaca a escultura
de Bruno Giorgi e o painel de Portinari, executado por Américo Braga.
Valorizada pelo espelho d'água e pela moldura paisagística, a obra
representa um momento de profunda emoção de Cataguases.
Bolonha deixou, também, vários projetos paisagísticos como os da
residência José Pacheco, José Peixoto, João Peixoto e Hugo Lanna, este
não construído. O conjunto das obras de paisagismo da cidade conta,
além dos projetos de Burle Marx e Bolonha, com o trabalho de Carlos Perry
no Hotel Cataguases, merecendo por sua importância o desenvolvimento de
estudos específicos.
Edifício A Nacional - Fachada
Arquitetos: M.M.M. Roberto
1957 (conclusão da obra)
|
Edifício A Nacional
Detalhe da caixa de escada e passarela de
circulação do bloco de apartamentos.
Arquitetos: M.M.M. Roberto
1957 (conclusão da obra) |
Edifício A Nacional
Detalhe da caixa de escada e passarela de
circulação do bloco de apartamentos.
Arquitetos: M.M.M. Roberto
1957 (conclusão da obra) |
Menção especial entre as realizações da década de 50 deve ser feita
ao edifício "A Nacional", projetado por M.M.M. Roberto em 1953
e concluído em 1957.Trabalhando com um programa comercial de lojas e
apartamentos, os irmãos Roberto deram uma solução que mostra os traços
de sua arquitetura internacionalmente consagrada. A proposta de
apartamentos duplex, a interessante disposição da área fronteira do
primeiro pavimento, e as passarelas sinuosas soltas no espaço do pátio
interno são destaques na concepção arquitetônica.
Por fim, na consolidação da transformação da paisagem surgem
desdobramentos locais importantes que asseguram a continuidade do trabalho
dos arquitetos pioneiros nas décadas seguintes aos anos 50.
Nesse quadro se destaca a atuação do arquiteto Luzimar Cerqueira de
Góes Telles, responsável por dezenas de projetos na cidade desde a
década de 50 até os anos 70.Chegando a Cataguases na virada dos anos 40
como funcionário do Banco do Brasil, entusiasma-se com o movimento
arquitetônico da cidade e resolve fazer o curso de arquitetura no Rio de
Janeiro.(25) Dedica-se inteiramente, por mais de 30 anos, a realizar sua
extensa obra em Cataguases caracterizada pela aplicação dos princípios
da moderna arquitetura, em soluções corretas marcadas pelo rigor
construtivo. Entre seus inúmeros projetos incluem-se as residências
Francisco Tavares Noleto, Rodrigo Lanna, Josué Inácio Peixoto, os
edifícios do Fórum, Banco do Brasil e Hospital de Cataguases, diversos
estabelecimentos industriais e comerciais, e as reformulações das
Praças de Santa Rita e Rui Barbosa.
Na virada da década de 60 destaca-se em Cataguases o trabalho do
arquiteto Flávio Almada que, nos poucos anos em que residiu na cidade,
deixou obras importantes, entre as quais apontamos a Escola Santo Antônio
Amaro e as residências do arquiteto e de Bob Schofield. Sua arquitetura
rigorosa e criativa representa uma contribuição extremamente
significativa ao acervo arquitetônico da cidade.
Situados nos desdobramentos do movimento arquitetônico pioneiro com
trabalhos desenvolvidos a partir da década de 60 citamos, ainda, o
arquiteto Fernando de Oliveira e, mais recentemente, os projetos de Marcos
Castelo Antenor de Araújo e de Luiz Antônio Macedo Rangel.
Enfim, concluir que o movimento da arquitetura moderna em Cataguases é um
capítulo da mais alta relevância no contexto cultural do país é chover
no molhado. Tentaremos uma outra saída.
Lançar um olhar sobre Cataguases é olhar a trajetória da sociedade
brasileira e refletir sobre o sentido da arquitetura no momento em que
está colocada a questão da pós-modernidade. É, portanto, tentar
perceber, além da beleza e da poesia desse patrimônio arquitetônico, um
ponto de partida para as reflexões sobre os rumos a seguir. E é, ainda,
buscar resgatar na lição dos velhos mestres o entusiasmo, a
determinação, e o espírito de luta, no sentido de retomar a perspectiva
da arquitetura e da cidade para os cidadãos.
Selma Melo Miranda
Arquiteta UFMG
Especialista em Conservação e Restauração de
Monumentos e Conjuntos Históricos UFMG/ SPHAN.
Mestranda em História da Arquitetura - USP
Pesquisadora/ Professora de Arquitetura Brasileira.
Diretora do Museu do Ouro - IBPC
NOTAS
(1) Lemos, Carlos, Arquitetura Contemporânea, , In: História Geral da
Arte no Brasil, São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, 1985.v. II,
p. 826.
(2) LE CORBUSIER. Por uma Arquitetura, São Paulo: Perspectiva, 1981.
(Estudos,27). P.5-10.
(4) Na elaboração da pesquisa contamos com o apoio das pesquisadoras
Josanne Guerra Simões, Kátia Caran Miranda, Gláucia Siqueira e Mariana
C. G. Cardoso de Almeida, as duas últimas integrantes da equipe da
Secretaria Municipal de Cultura de Cataguases.Além das referências
bibliográficas indicadas em notas, consultamos: .COSTA, Levi Simões da.
Cataguases Centenária. Juiz de Fora:ESDEVA Empresa Gráfica S.A,1977.
.Memória e Patrimônio Cultural, Belo Horizonte: Imprensa Universitária,
1988. 2 v.
INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO DE MINAS GERAIS.
Superintendência de Pesquisa e Tombamento, Cataguases- Informe
Histórico. Belo Horizonte, s.d..(original datilografado).
RESENDE, Enrique de. Pequena História Sentimental de Cataguases. Belo
Horizonte: Itatiaia, 1969.
. REVISTA ARQUITETURA E ENGENHARIA, Belo Horizonte, nº
15,p.22,jan.fev.1952.
.Belo Horizonte, nº 20,p.39.42,fev.1952.
.Belo Horizonte, nº 29,p.48-50,jan.fev.1954.
.REVISTA HABITAT,São Paulo, nº 52,p.1-9,jan.fev.1959.
(5) LAVOURA e Comércio. Uberaba,17 abr, 1914 apud SALGUEIRO, Heliana
Angotti.O Ecletismo em Minas Gerais: Belo Horizonte 1894-1930.In:
Ecletismo na Arquitetura Brasileira. Org.Annateresa Fabris.São Paulo:
Nobel; Editora da Universidade de São Paulo, 1987.p.105-145.
(6) REVISTA DA MATA. Cataguases,AnoI,nº I.jan.1917.
(7) DEL BRENNA,Giovanna Rosso.Ecletismo no Rio de Janeiro.In: Ecletismo na
Arquitetura Brasileira. Org. Annateresa Fabris.São Paulo:Nobel; Editora
da Universidade de São Paulo,1987.p.53.
(8) IDEM.p.56-7.
(9) A CIDADE em Marcha, Cataguases,27dez.1925,p.2.
(10) O Jornal Cataguases notícia a construção de vários palacetes
executados com "...arte e beleza..." Cataguases,Cataguases,04
jan.1925,p.I.
(11) CARDOSO,Maria Francisca T.C.Aspectos Geográficos da cidade de
Cataguases. SEPARATA DA REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA. Rio de
Janeiro,v.17,nº4,p.423-48,out/dez.1955.
(12) Conforme o importante levantamento de obras, engenheiros e
construtores de Belo Horizonte no período 1897-1940, realizado pelo
IEPHA-MG.
(13) UM ARQUITETO Independen Cataguases, Cataguases.9set.1990.Suplemento
Especial.p.4.
(14) ANDRADE, Mário de.Brazil Builds. Arte em Revista,São
Paulo,nº4,ago.1980,p.26.
(15) Simões da Costa em Cataguases Centenária afirma ter havido
"...conscientização geral do mundo católico cataguasense para se
erguer uma nova e moderna igreja..."(COSTA,Levi Simões da.op.cit,p.45)..É
um aspecto a pesquisar.
(16) CORRESPONDÊNCIA de Marques Rabelo a Francisco Peixoto,Rio de
Janeiro,14fev.1945.
(17) IDEM, Buenos Aires,31 jul.1945 e s.I.,20 set.1949?.
(18) COSTA, Lúcio,Muita Construção,alguma Arquitetura e um Milagre.Arte
em Revista,São Paulo, nº4,ago.1980.p.38.
(19)CORRESPONÊNCIA de Marques Rebelo e Francisco Peixoto,s.I.set.1949?.
(20) IDEM.
(21) BOLOGNA: O inicio em Cataguases.Cataguases,Cataguases,09
set.1990.Suplemento Especial,p.3.
(22) CATAGUASES - Uma Réplica a Ouro Preto. O Cruzeiro,Rio de
Janeiro,p.51-57,64,78,fev.1950.
(23) CATAGUASES.L'Architecture d'Aujourd'Hul,Paris,nºs.42-3,p.82-9,agos,1952.
(24) ANDRADE, Mário de. Brazil Builds.Arte em Revista. São
Paulo,nº4,ago 1980.p.26.
DEPOIMENTO do Arquiteto Flávio Almada.
Comentário
Esta exposição sintetiza o trabalho de vários anos e o esforço de
pessoas, entidades, instituições e empresas que ao longo desse tempo
sonharam desvendar os caminhos do modernismo brasileiro na cidade mineira
de Cataguases. Ao lançar, em 88,o "Projeto Cataguases - Um Olhar
Sobre a Modernidade", o Departamento de Minas Gerais do Instituto de
Arquitetos do Brasil incorporou-se a uma parceria profícua com a 13ª
Coordenação Regional do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural e a
Prefeitura Municipal de Cataguases, que já desenvolviam o Projeto
Memória e Patrimônio Cultural de Cataguases. "U m Olhar Sobre a
Modernidade" já revelava, então, a aproximação proposta pelo
IAB-MG à realidade generosa que reuniu em Cataguases, a partir da década
de 20, artistas, designers, escritores e arquitetos, representativos
daquele momento de efervescência cultural.
Mais que um olhar sobre a história, esta exposição nos permite ampliar
e multiplicar nossos olhares sobre as conseqüências deste movimento:
"lançar um olhar sobre Cataguases é olhar a trajetória da
sociedade brasileira e refletir sobre o sentido da arquitetura no momento
em que está colocada a questão da pós-modernidade".
Com o apoio inestimável da população de Cataguases, a parceria entre a
13ª Coordenação Regional do Instituto Brasileiro do Patrimônio
Cultural, a Prefeitura Municipal de Cataguases , a Secretária de Estado
da Cultura e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico
do Estado de Minas Gerais, tornou visível parte deste enredo, restaurando
a importância da arquitetura como síntese e testemunha da modernidade em
Cataguases, museu vivo do modernismo.
Maria Elisa Baptista.
Presidente do IAB-MG
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