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Impressionado, na Presidência do Estado de Minas, com o facto de já contar o Brasil um século de vida política independente sem cuidar sériamente do ensino profissional, em que se deve alicerçar sua futura grandeza industrial, creei esta Escola Superior de Agricultura e Veterinária com o alto objectivo de abolir o empirismo agrícola, a que tantos mineiros consagravam suas energias, no amanho diuturno da terra como na creação e pastoreio dos seus rebanhos. Tendo me cabido a fortuna de creal-a como Presidente de Minas e tendo tido a satisfação de assistir, como Presidente da República, à sua inauguração official, regosijo-me ao vel-a, hoje, em pleno funccionamento e já despertando novos estímulos nas gerações, empenhadas, agora, numa actividade racional e scientifica, que há de conduzil-as a maior e mais facil prosperidade. É o alvorecer de uma nova era nos destinos economicos do Estado e do Paiz, já se podendo antever uma larga messe e uma proxima e pujante colheita. Satisfeitos e contentes devem sentir-se quantos collaboraram nesta iniciativa victoriosa, sobretudo os governantes que me succederam, o fundador technico e ex-diretor da Escola, Professor P. H. Rolfs, e o encarregado da construçào das obras e seu diretor actual, o illustre engenheiro J. C. Bello Lisboa, com os quaes me congratulo ainda uma vez. - Viçosa, 12 de março de 1929. Arthur Bernardes - Senador da República.

Uma Escola Agrícola Moderna no Interior Mineiro - Brasil, anos 20. O País vivia em um regime político dominado pelas oligarquias regionais que se fundamentavam na agricultura. Dois estados da federação se revesavam quase que sucessivamente na direção do poder político nacional: São Paulo e Minas Gerais. Mas por que uma escola de agricultura? O Brasil caracterizava-se por ser um País de vocação agroexportadora. Uma escola de agricultura se tornaria , portanto, um mecanismo de consolidação do poder das oligarquias agrárias. E por que Viçosa? Ocupando o cargo de Presidente dos Estado de Minas Gerais estava Arthur da Silva Bernardes e a criação da Escola de Agricultura seria uma ótima oportunidade de fechar sua participação à frente do governo estadual, quando sairia para ocupar o lugar de Minas na Presidência da República. Escolhido o modelo americano chegou-se ao nome de Peter Henry Rolfs, diretor da Florida Agricultural College, responsável pela direção da futura escola e pelo projeto. Depois de visitar Visconde do Rio Branco, Ubá, Cataguases, Leopoldina, Juiz de Fora e Ponte Nova, cidades da Zona da Mata, considerou a altitude e o clima de Viçosa como de singular importância na decisão a ser tomada, não se esquecendo do fato de Arthur Bernardes ser viçosense. Em 28 de agosto de 1926 foi inaugurada solenemente a Escola Superior de Agricultura e Veterinária - ESAV. Iniciou os cursos Fundamental e Médio em 1927 com 25 alunos matriculados.

O homem encarregado de coordenar a instalação do que viria a ser a Escola de Viçosa, aceitou a proposta de comandar uma instituição a partir do nada, num país estranho e de língua e costumes diversos. Todo o planejamento da futura escola, sua "alma mater" e os princípios básicos de Ciência e Prática, e até mesmo o adestramento da mula "Ruana" para trabalhos no campo foram feitos por Rolfs. Ao terminar seu contrato com o Estado, Peter Henry Rolfs passou a desempenhar as funções de Consultor Técnico de Agricultura de Minas Gerais.

Bello Lisbôa chegou a Viçosa em 1922, para integrar a equipe de engenheiros encarregados da construção da escola. Tornou-se o primeiro catedrático contratado, assumindo a cadeira de Engenharia Rural e o cargo de vice-diretor. Dirigiu a instituição de 1929 até 1936, consolidando a ESAV. Bernardes criou a semente, Rolfs a plantou e Bello Lisbôa a cultivou.

"Esta Escola terá por objetivo ministrar o ensino prático e teórico da Agricultura e Veterinária e bem assim realizar estudos experimentais, que concorram para o desenvolvimento de taes sciências no Estado de Minas Gerais."

Vinculada desde o início da Escola Superior de Agricultura e Veterinária à sua identidade e à sua própria história, a idéia de progresso identifica-se como um emblema da escola e passa a ser o principal agente da construção da história da Instituição.

O Estado de Minas Gerais não consegue abandonar o incômodo "status" de segunda força econômica e alcançar a pujança paulista. O atraso deveria ser combatido com o auxílio da ciência e a ingerência de novas tecnologias.

A transposição de experiências externas bem sucedidas aparece como uma estratégia promissora.

Inspirada no modelo institucional americano que, pautado por suas três linhas mestras - o Ensino, a Pesquisa e a Extensão -, objetivava o pragmatismo da ciência aplicada ao mercado.

Sem dúvida alguma, este modelo tornava a ESAV diferente no meio acadêmico.

"Neste lar forja-se uma mentalidade própria - o Espírito Esaviano - árvore frondosa que evolue contínua e silenciosamente, para felicidade nossa, da Agricultura e da Pátria."

Ao entrar para o seu quadro, o "esaviano"sentia-se transformado e tomado por uma empolgação diferente, uma vontade e um orgulho de pertencer a uma Instituição que não era uma qualquer, mas uma segunda casa.

A ESAV era realmente uma segunda casa para o seu aluno, pois ela completava a formação dos moços e posteriormente das moças, moldando-os e preparando-os para a vida profissional.

O "Espírito Esaviano"assemelhava-se ao clima que imperava na casa dos pais, o qual, na maioria das vezes, tinha o rosto e o jeito da mãe.

"Escola Superior de Agricultura! Semente que atirada à terra-beira, vai germinar em bençãos para a altura!"

O Centro dos Estudantes tinha na revista "Seiva"e no jornal "O Bonde", bons divulgadores de sua ideologia e excelentes aparelhos de engajamento.

"Louvados os que lutam, de olhos no futuro, o espírito ao alto, nas exaltações supremas de um ideal. Louvados os que sonham. Louvados os que crêem." (Prof. Nello de Moura Rangel)

Engajamento. Esta é uma palavra que representa muito bem o que significava o Espírito Esaviano. Os valores da ESAV tornavam-se hegemônicos, pois seus próprios alunos se transformavam em seus porta-vozes.

A "árvore frondosa" que evoluia contínua e silenciosamente, como dizia o bordão estampado em "Seiva", teve que estagnar e parar de dar frutos. Dos frutos que deu, a doçura ficou presente apenas na memória daqueles que os provaram.

CRONOLOGIA: 1920 - 6 de setembro. O Presidente do Estado de Minas Gerais, Arthur da Silva Bernardes, assina a Lei 761, que autoriza o governo do Estado a criar uma Escola Superior de Agricultura e Veterinária, cujo local de funcionamento seria escolhido posteriormente.