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Fernando Lucchesi
A outra pintura
Toda obra (instalação, objetos e desenhos) de Fernando Lucchesi, a primeira vista remete a um foco comum: visualidade moldada a partir de uma massa "caótica" de diferentes referências e/ou materiais organizados geometricamente. Dessa matriz, ao longo da história do artista, emergiram distintas proposições, a valer-se de diversificadas "mídias, sempre a construir/investigar um conceito: visibilidade".As pinturas, ora em exposição, não fogem deste princípio, mas colocam algumas questões. A primeira delas está ligada a uma pergunta: o que é pintura para Fernando Lucchesi? Visto do plano micro (e as pinturas devem ser vistas bem de perto, experimentadas como uma "descostura", deliberada, de uma idéia de totalidade visual) sugere desenhos com tintas, de fina sensibilidade, sobre superfícies praticamente cruas.No plano macro, por sua vez, elas se detém na afirmação da superfície, deixando claro que é neste "lugar", construído, pulverizado através de pingos de tinta e alguns traços, que o artista opera seu discurso poético. Acrescente-se sedução por uma investigação espacial que, irradiando-se a partir da peça, transborda para o espaço "real", trazendo, de modo ambíguo, para a "pintura "uma (saborosa e até irônica) filigrana utópico-constutiva.E, aqui, só descrevendo os procedimentos dos artista, já estamos enredados na obra de Fernando Lucchesi. Ou melhor, estamos no rendimento de uma certa "pintura" contemporânea (isto, afirmada na Segunda metade do século XX ), que articula investigação "tática" da expressividade da "mídia" eleita com um forte sentido de indagação(até os limites de uma deliberada erosão) de conceitos pictóricos tradicionais.Exemplos? Ives Klein,Jackson Pollock, Hélio Oticica, Cy Twonbly, Georg Basiltz,e até Jean - Michel Basquiat. Que ninguém se iluda: pouco importa se as pinturas da nossa época pareçam (e talvez sejam ) outras coisas: desenhos, murais, textos, sinais rupestres,ambientes e até "pinturas". Talvez tudo refira-se á expansibilidade do "cosmos" de cada linguagem.E, diante de nós, esteja um diálogo embate intenso da pintura (a pintura) que, depois de uma morte anunciada, surge a investigar, demolir e a ironizar as "razões" (e até as víceras ) de outras linguagens. E, ainda, imaginando, abrindo hipóteses de pintura e,mesmo, uma outra pintura. As obras de Fernando Lucchesi (e não somente as dele), de modo particularmente singular, habitam estes motivos, espaços, conceitos, práticas, etc ...
Walter Sebastião - Junho de 1999.
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