O Pré-moderno


Antonio de Paiva MOURA

1 - Arquitetura


Considerações
O fascínio que o Barroco exerceu sobre as artes em Minas, de um modo geral foi enorme: Diamantina e Serro irradiaram influências marcantes até a primeira metade do século XX, para o Vale do Jequitinhonha e cabeceiras dos afluentes do Rio Doce. Ouro Preto, Mariana e Sabará influenciaram as margens do Caminho Novo com direção ao Rio de Janeiro, de Congonhas até Matias Barbosa. Para o Oeste, até Itapecerica e por extensão ao Triângulo Mineiro; para o Leste até Ponte Nova; para o Norte, até Paracatu e Montes Claros. São João del Rei e Tiradentes exerceram influência sobre os Campos das Vertentes e parte do Oeste. Campanha reinou sobre o Sul de Minas. A Zona da Mata em face de injunção na política de colonização ficou quase intangível às influências da estética barroca, nas edificações religiosas. Exceção apenas para as primeiras capelas devocionais, na maioria, demolidas para dar lugar às matrizes ecléticas, neoclássicas, neo-góticas e neocoloniais. Algumas fazendas levaram os varandões frontais, as janelas de guilhotina e as ermidas na extremidade da varanda. As margens do Caminho Novo foram ocupadas por sitiantes de confiança do Governo da Capitania, permitindo edificações que se caracterizam como da primeira fase do Barroco mineiro, a exemplo do complexo de fazendas, compreendendo moradias, ermidas e hospedarias. (1) Há também poucos e raros núcleos de mineração como Piranga e Conceição de Ibitipoca, com início de urbanização. (2)
Ainda no século XIX, na arquitetura vinda da época colonial, foram introduzidas algumas modificações nas fachadas das casas residenciais. As águas dos telhados começaram a ser conduzidas por calhas de folhas de flandres importadas. Os beirais encachorrados recebem cobertura de tábua pintada com cores bem definidas. O uso da serra tico-tico ou serra São José, facilita os recortes dos ornatos desses beirais. 
Também no final do século XIX o guarda-corpo de madeira das portas sacadas começa a ser substituído pela ferragem laminada, ornada em florais. As vergas das janelas flexibilizam-se em variadas formas: arco pleno, triangular, reto, curvo com bico e ogival. 


Numa rua de Rio Preto, diversos tipos de beirais,
 vergas de portas e janelas, sacadas.



Neocolonial 
Por todos os quadrantes da expansão territorial de Minas podemos registrar as lembranças das capelas que ficaram no passado. A Zona da Mata ainda levou uma lembrança da Minas colonial, restrita a poucas localidades com Piranga igreja do Rosário, em que as torres são compensadas por dois blocos que ladeiam a nave central. A portada única sobre a qual se colocam quatro portas sacadas na altura do coro com guarda-corpo de madeira. A porta almofadada coroada com verga em ponta. O frontão triangular com beiral, vazado por um óculo pentagonal. A matriz de N.S. da Conceição de Ibitipoca lembra as edificações da primeira fase do Barroco Mineiro. (3)


Matriz de Conceição de Ibitipoca


Além das capelas que iniciam os povoados, as fazendas dos coronéis do café levam as reminiscências do passado colonial mineiro. Fazenda Rochedo, de 1878, no distrito de Glória no município de Cataguases, tem muito de uma casa urbana, exceto a portada principal, em verga de meia-curva. 
A fazenda São Mateus em Juiz de Fora, com dois pavimentos em dois blocos na forma de "L". No bloco principal, construído em 1803±; escadaria de duplo acesso; janelas com vidraças de vergas em bico; varanda com 74 metros de comprimento e parapeito de madeira entalhada, em cor azul. Na extremidade direita desta localiza-se a capela-oratório. No lado oposto o fumoir e sala de diversões. O segundo bloco, edificado na segunda metade do século XIX, faz ângulo de noventa graus com o principal; janelas de vidraças em guilhotinas. É mais arejado e mais bem iluminado. Em 1932 a viúva de Cândido Tostes, dona Maria Luiza de Resende Tostes, mandou edificar uma igreja de porte elevado, em linhas clássicas, com risco do arquiteto Faso Filho, também em ângulo com o bloco principal. (4)


Fazenda São Mateus - estrada Juiz de Fora/Rio Preto

Fazenda São Mateus - estrada Juiz de Fora/Rio Preto

Fazenda do Barrão no município de Lima Duarte, dois pavimentos, janelas de vidraças em guilhotinas. 


Fazenda Barão 
Estrada de Santa Bárbara do Monte Verde a Lima Duarte.


Matriz de Santa Rita de Ibitipoca. Conserva os elementos ornamentais da terceira fase do barroco mineiro, com o frontão bem movimentado por animadas volutas, vergas de bico, cimalha movimentada pela curvatura do óculo. 


Matriz de Santa Rita de Ibitipoca


Matriz de Santo Antônio, de Olaria. Porta e torre únicas, três janelas com vergas de bico. 


Matriz de Olaria


Academia de Comércio de Juiz de Fora, soberana no salto da montanha, com janelas e portas com vergas de bico. 


Academia do Comércio de Juiz de Fora


Curiosa a capela do colégio Cristo Redentor em Juiz de Fora, no interior da Academia de Comércio. Janelas com vergas em bico, colunas cilíndricas sustentando arcos plenos no interior, pintadas, fingindo colunas torças. 

Neoclassicismo 
Ao contrário do Rio de Janeiro que abrigava a Corte Imperial, em Minas Gerais, não havia quase edificação oficial. Porém afluem as fazendas de café e as laticineiras para onde se concentravam as riquezas de Minas, com importação de elementos decorativos como caixilhos de vidros, sacadas de ferro laminado em substituição aos torneados de madeira e o pesado granito. Fazenda da Glória, do major Joaquim Vieira da Silva, em Cataguases, no final do século XIX, sobrado de dois pavimentos, com platibanda maciça e ornatos em estucagem. 


Fazenda da Glória


Por toda essa resistência ao barroquismo, que além de tardio, era ainda retardatário, o neoclassicismo começa a aflorar Juiz de Fora onde os elementos clássicos sobressaem especialmente nas casas da rua Santo Antonio. A monumental Cia Textil Bernardo Mascarenhas, construída em 1888, pela cia Pantaleoni Arcuri, família de arquiteto e construtores. Notável a edificação do Cine Teatro de Juiz de Fora, de 1928/1929, projeto do arquiteto Rafael Arcuri. 
Soma-se esse neoclássico compósito, a uma variada e eclética massa de ornatos, a exemplo da estucagem em tetos e fachadas, portadas e escadarias de ferro "art nouveau", resultando no que conhecemos como ecletismo. 
A casa d'Itália inaugurada em 1939, quer refletir a grandeza dos italinos, projeto de Rafael Arcuri. (CHRISTO, M C V, 2000) Hoje, Casa da Conservadora Juiz de Fora, em Jf.


Casa da Conservadora Juiz de Fora


A Igreja de São Sebastião de Juiz de Fora, a torre no centro da faixada, vazada em arcos plenos, encimada por uma estátua de São Sebastião. Inaugurada em 1878, com mecenato de João Ribeiro Mendes, no terreno de Henrique Halfeld. 


Fachada da Igreja de São Sebastião em Juiz de Fora


Prédio da Prefeitura Municipal de Lima Duarte, em dois pavimentos, vergas de portas e janelas em arcos plenos; frontão triangular; platibanda fechada, sem ornatos. 


Prefeitura Municipal de Lima Duarte


Palácio Municipal de Rio Branco, com platibandas ornadas com estatuetas de estucagem. 


Prefeitura Municipal de Cataguases



Neogótico 
O gosto neogótico ou a volta à estética gótica medieval é um fenômeno europeu que se instala no Brasil com certa lentidão e com quase cem anos de diferença. Para reagir ao racionalismo clássico implantado com o Iluminismo e com a Revolução Francesa, o romantismo apelou para os valores medievais e adotou o estilo gótico como preferência estética. Ao invés da horizontalidade e do geometrismo clássico, os românticos preferem, como Viollet-le-Duc a verticalidade e a elevação espiritual sugerida pelas catedrais góticas. Desta forma, o colégio do Caraça, do começo do século XIX, juntamente com os mineiros, foge da "urbis" e se instala nos penhascos da serra, apontando para o infinito. É isso que a igreja do Caraça indica: verticalidade, como as montanhas de Catas Altas. Podemos dizer que o Padre Júlio Clavelin, arquiteto que possivelmente trabalhou na reforma do Caraça, cria uma escola que nega as do Barroco e do Iluminismo gerando o cletismo que se espalha pelo ampliado território de Minas. 
Reagindo ao racionalismo neoclássico da construção oficial positivista o clero de Minas tomou o caminho romântico do neogótico nas edificações religiosas. A antiga matriz barroca do Curral del Rei foi demolida e no local edificado um templo neogótico, com torres e agulhas decorativas apontando para o alto. Na região da Mata, um exemplo marcante é a Matriz de Santa Rira, de Cataguases. A edificação de 1851, modesta capela, foi reformada pelo risco do arquiteto Augusto Rousseau, em 1894, ao mesmo tempo em que se iniciava a construção de Belo Horizonte. 


Antiga Matriz de Santa Rita - Cataguases


Em Juiz de Fora, a Capela de São Roque, com fachada movimentada pela presença de duas graciosas cimalhas de pedra ornadas por estrias horizontais. A torre única no centro da fachada se alonga verticalmente competindo com os edifícios que a comprimem. Portada única ladeada por dois nichos, harmonizando-se com as janelas em ogivas do pavimento de acesso ao coro.


Igreja de São Roque - Juiz de Fora


Por toda a região da Mata as modestas capelas devocionais edificadas no início do povoamento da região começam a ser substituídas pelas imponentes matrizes plantadas em amplas praças. A matriz de Santa Bárbara do Monte Verde, em alvenaria, construída na parte mais elevada da praça, impressiona pelo gigantismo diante das demais edificações. 


Matriz de Santa Bárbara de Monte Verde



Ecletismo 
O arquiteto José de Magalhães (1851/1899) responsável por diversos projetos arquitetônicos na construção de Belo Horizonte, entre os quais o palácio da Liberdade e Secretaria da Educação, na Praça da Liberdade, esteve presente à Exposição Universal de 1878, em Paris, na qual ocorreu o debate arte-indústria, falando da combinação de materiais de revestimento, tijolo, ferro, cerâmica, mosaicos importados em face da ausência de tecnologia, trouxe diversos modelos para Belo Horizonte. Ao mesmo tempo em que segue uma tendência harmonizadora própria da arte clássica, Magalhães se inspira no romântico Violet Le Duc, com tendência gotizante. Minas Gerais da segunda metade do século XIX à primeira metade do século XX é eclética tanto na ética quanto na estética. Predomina a filosofia da conciliação, do entendimento entre as partes antagônicas. A própria economia da Zona da Mata revela esse caráter eclético. Ao invés de permanecer na monocultura do café, o empresário matense investiu muito na pecuária leiteira e de corte; na cultura do arroz e do fumo; na cana de açúcar e na tecelagem. 
Talvez o exemplo mais expressivo do ecletismo arquitetônico da Zona da Mata esteja na Chácara Dona Catarina em Cataguases, antiga residência do empresário e político João Duarte Emprega, os lambrequins de madeira nos beirais que circunda a edificação; janelas com vergas em arcos plenos e ogivais; planta baixa que lembra a movimentação maneirista e barrroca. 


Chácara Dona Catarina, em Cataguases.


De frente para a Chácara Dona Catarina está o Hotel Villas, construído em 1895, em dois pavimentos, com falsetes de colunas clássicas arrematadas por cimalha em estuque; platibanda com ornatos em grega encimada por um frontão em volutas barrocas; portas e portas sacadas com vergas em arcos plenos e guarda-corpo de metal. 


Hotel Villas, em Cataguases.


Em Juiz de Fora, a igreja de Nossa Senhora da Glória, com arcos românicos e rosáceas em vitrais góticos. 
Ainda em Juiz de Fora a Catedral, cuja faixada é composta por três portas com vergas de arcos plenos e frontão triangular. Acima dessa faixada o segundo plano se impõe pela grande rosácea em vitral. Enorme empena ladeada por duas torres cúbicas, com janelas em bico e agulhas cônicas. No interior, uma enorme cúpula sustentada por quatro arcadas romanas, proporciona amplidão de espaço e farta iluminação ao templo. 


Catedral de Santo Antônio, Juiz de Fora


A matriz de Senhor dos Passos de Rio Preto tem na fachada três grandes portas e quadro amplas janelas, em arcos plenos, confere à igreja o caráter neoclássico e as laterais com as janelas com vergas em bico, o caráter neocolonial. O efeito visual dessas janelas, no interior do templo e mais expressivo. 


Matriz de Senhor dos Passos, em Rio Preto.



Estações ferroviárias
As grandes distâncias, a diversificação da produção da província de Minas exigia um novo meio de transporte: o trem de ferro. Os ingleses são os construtores de ferrovias e acabam provocando um grande impacto de ordem técnica e estética com a arquitetura das estações. As estações são construídas com materiais importados; paredes de tijolos queimados, à vista ou cobertos com argamassas; os telhados prolongados sobre o piso da plataforma e sustentados por grandes mãos francesas; decorados com lambrequins de madeira ou de metal, exibindo ornatos florais e abstratos. Pela novidade e pela funcionalidade o chalé inglês vira moda chegando às residências particulares. Um dos exemplos mais marcantes é a Estação de Cataguases com plataforma nos dois lados. Não preservou os lambrequins dos beirais. Mas a chácara dona Catarina, quase em frente à estação os conservou com muito cuidado após a restauração. 


Estação Ferroviária de Cataguases.


A estação ferroviária está gravada na memória do mineiro. Palco de longas esperas: pelo momento de partir para o além montes; pela chegada de alguém que há muito não se via; pela fortuna material; pela fortuna do amor; pelo barulho inaudito do vapor; pelo apito rouco da maria-fumaça; pelo acenar do lenço branco que lentamente desapareceu na curva do corte; pelo cheiro de maçã do carro restaurante. Hoje, em muitas dessas estações, voltaremos para novas missões e ambições da vida. Como diz Goethe, em "Fausto", tudo que existe acaba. Essa fatalidade dialética nos deixa um consolo: o que acaba deixa sua marca, o gene da continuidade. 


Estação de Banco Verde, localizada junto a uma fazenda antiga, em Barão do Monte Alto.


A cronologia de inaugurações das estações ferroviárias na Zona da Mata denota a historicidade da região A lavoura de café puxou as linhas e as estações. Estas marcaram os povoados; ampliaram as vilas, sedes dos distritos; elevaram as cidades sedes dos municípios e estabeleceram as comarcas. 
1874 - Porto Novo - Antonio Carlos - Volta Grande. 
1876 - Santa Izabel
1877 - Leopoldina e Cataguases
1879 - São Pedro - Muriaé - Serraria - Silva Lobo - Sossego - Bicas - Santa Helena - 
Sobral e Ubá. 
1880 - São Geraldo - Rio Branco - Pirapetinga.
1882 - Rochedo
1883 - Palma e Rio Novo
1884 - Banco Verde
1885 - Morro Alto - Patrocínio - Paquequer - Barcelos - Bela Joana - Coimbra - 
Aracati Turvo - Barão de São Francisco - Viçosa e Teixeira. 
1886 - Ivai - Antonio Prado - São Paulo - Tombo Açu - Ponte Nova - São Joaquim - 
Piranga - Passa Cinco - Pomba - Piraúba - Tocantins - Rio Doce - Farias 
Lemos. 
1887 - Saúde - Melo Barreto - Santa Luzia 
1894 - Celidônio 
1895 - Coelho Barros - Pontal 
1897 - Astolfo Olinto. 

Chalé
O estilo chalé inglês chega isoladamente em Nova Lima, com os ingleses, mas é com o avanço da Estrada de Ferro que as estações ferroviárias, construídas com material importado, paredes de tijolo em substituição à taipa de mão (pau-a-pique) Em Cataguases a casa de Manoel Inácio Peixoto na rua coronel Silva Resende. Duas casas marcam bem a presença do chalé em Juiz de Fora, ambas próximas ao edifício da Reitoria da UFJF, na rua Benjamim Constante. 


Casa em estilo chalé, rua Benjamim Constant, Juiz de Fora.


2 - Pintura


Como observou Myriam Andrade Ribeiro, em trabalho de 1982, o estudo das artes plásticas em Minas, passada a época colonial, é nulo. Nossos historiadores só vêem historicidade no Barroco e no Rococó. É como se Minas tivesse parado no tempo a partir de 1801. Ou talvez nossos historiadores tivessem aprendido com os geólogos que Minas é uma rocha metamórfica que recebe o nome de ("barroquita") e que assim permanecerá por um bilhão de anos. O certo é que Athayde ao morrer em 1830, seu fantasma continuou rondando as oficinas dos artistas mineiros que o sucederam. Muitos pintores continuaram trabalhando nos templos edificados ainda na época colonial, embora sem os recursos da época da opulência do ciclo do ouro. (6) É preciso observar que a partir dos anos 40 do século XIX, em Minas, a pintura se descola da arquitetura, passando a ser móvel e daí as constantes perdas e depreciações ao longo do tempo. 
Com a abertura dos portos brasileiros, Minas foi visitada por inúmeros estrangeiros, desenhistas, gravadores e pintores que contribuíram para a difusão das artes plásticas de cunho não religioso, a exemplo de George Grimm que deixou obra retratando Sabará, para o pano de boca do teatro da cidade. 
Em 1886 foi criado o Liceu de Artes e Ofícios de Ouro Preto. Ainda em Ouro Preto a presença de Honório Esteves formado pela Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro. É de Honório Esteves o primeiro retrato de Marlière, que muito contribuiu com a história da região. Recentemente, em versão idêntica, um quadro óleo sobre tela de Angel Irrazabal. 


Pintura de Angel Irrazabal, retrato de Marlière.


Mas a Zona da Mata recebia uma influência direta das escolas acadêmicas do Rio de Janeiro e dos imigrantes italianos na história de sua iconografia pictórica. Notável é a pintura mural do italiano Angelo Bigi, no Cine-Teatro Central de Juiz de Fora. O caráter neoclássico da obra pode ser constatado no detalhe em que mostra uma figura masculina zooantropomórfica, tocando uma corneta, de costas para a musa que toca um bandolim. No relevo do vaso que separa as duas figuras, um grupo de bailarinos dançando, representado em nu. 


Detalhe de pintura - Cine Teatro Central.


3 - Retábulos 


Os retábulos de caráter barroco do século XVIII continuam, por extensão até a primeira metade do século XIX, ou seja, altares ricos em ornatos escultóricos da primeira, segunda e terceira fases do Barroco Mineiro continuam sendo imitados muito além de seus tempos. 
Matriz de N. Senhora da Conceição de Conceição de Ibitipoca, da quarta fase do barroco mineiro; pintura para imitar mármore nos altares laterais. O altar-mor com discreto douramento, efeitos pictóricos para aumentar movimentos e expressividade. 


Altar-mor de NS Conceição, em Ibitipoca.


Matriz de Senhor dos Passos de Rio Preto, com colunas clássicas arrematadas por cimalha em estuque. 


Altar-mor da Igreja Senhor dos Passos de Rio Preto.


Matriz de Santa Rita em Santa Rita de Ibitipoca. Altares laterais, de talhas mais bem elaboradas, lembrando a quarta fase do barroco mineiro. Porém o altar-mor de caráter neoclássico está prejudicado por uma cobertura pictórica inadequada. 


Altar lateral esquerdo da matriz de Santa Rita de Ibitipoca.


Altar mor do Santuário do Bom Jesus de Santo Antonio do Pirapetinga, no município de Piranga. Terceira fase do Barroco Mineiro. Colunas de fustes lisos, de madeira imitando mármore, como fez José Soares de Araújo em Diamantina. Cimalha movimentada em cortes curvos e retilíneos. O arremate do retábulo é notável pelas guirlandas, rocalhas, figuração antropomorfa e douramento suave. Essa obra foi contratada com o entalhador José de Medeiros Pinto, em 1781, continuada por José Coelho da Silva que seguem desenho de autor desconhecido. O douramento do sacrário é de Athayde. (MIRANDA, S. M. 1984)


4 - Monumentos escultóricos


Durante a colonização a arte escultórica esteve exclusivamente a serviço da catequese e da política de colonização. Mereciam ser retratados somente os reis, os nobres, os príncipes da Igreja e as santidades. O público devia obrigatoriamente fruir o gosto estético imposto pelos tronos irmanados, quer na passividade dos bancos das igrejas, quer na reverência aos andores em desfiles de procissões. A presença da corte no Brasil, a partir de 1808, regida por um príncipe, filho de D. Maria I, rainha perturbada pelo fanatismo religioso, não conseguiu remover a cultura colonial injetada no povo do Brasil. A monarquia que continua o Brasil independente, também pertence à mesma casa real, não consegue demover os entulhos coloniais. Somente a partir da segunda metade do século XIX, as camadas superiores e médias sinalizam para o descarte da cultura colonial e para a formação de novas mentalidades. A estética positivista se inspira na idealidade iluminista e romântica buscando a iconografia clássica antiga como a Deusa da Fortuna, esculpida na técnica de estuque, para encimar a platibanda do edifício de um banco, hoje Hotel Villas, em Cataguases: vestes leves e transparentes, lembrando "A Vitória de Samotrácia". Na mão direita empunha um fardo de moedas e na esquerda o globo terrestre.


A Deusa da Prosperidade, no Hotel Villas em Cataguases.


No chamado Calçadão, travessa de acesso à Praça Rui Barbosa em Cataguases, um casarão conserva três estátuas em estuque, alegorias da mitologia grega, simetricamente dispostas sobre a platibanda. Trata-se de rara preservação no Brasil.


Casa no calçadão de Cataguases.

Detalhe de uma das estátuas.

Detalhe da estátua principal.


A partir daí os potentados regionais se inscrevem na lista dos que merecem um busto na praça pública; a história dos heróis regionais; o espelho histórico do passado longínquo da Grécia, de Roma do Egito. 


Herma a Camões - Parque Halfeld em Juiz de Fora


Assim, ao lado do busto de Camões encontra-se a estátua majestosa de José Procópio Teixeira, no parque Halfeld, em Juiz de Fora. 


Estátua de José Procópio Teixeira - Juiz de Fora


Cícero e Cecília Siqueira,
 a rara presença feminina nos monumentos 
estatuários da Zona da Mata.



Bibliografia

CHRISTO, Maraliz de Castro Vieira. Trabalho, enriquecimento e exclusão: italianos em Juiz de Fora (1870-1940) In: BORGES, Célia Maria (org) Solidariedade e conflitos: história de vidas e trajetórias de grupos em Juiz de Fora. Juiz de Fora: UFJF, 2000. 

FREITAS, José Luiz de. O passado presente na arte. Figurinhas de Cataguases. Cataguases: Agora, 1999. 

GOMES, Lindolfo. A tradicional fazenda São Mateus, em Juiz de Fora. Juiz de Fora: Dias Cardoso, 1933. 

MERCADANTE, Paulo. Os sertões do Leste: estudo de uma região (A Mata Mineira) Rio de Janeiro: Zahar, 1973. 

MIRANDA, Selma Melo. Arquitetura religiosa no Vale do Piranga. Barroco UFMG; Belo Horizonte, Nº 13, 1984/1985. 

PASSAGLIA, Luiz Alberto do Prato. A preservação do Patrimônio histórico de Juiz de Fora. Juiz de Fora: Prefeitura Municipal s/d.

Notas

(1) - A capela de Nossa Senhora da Conceição do Registro do Caminho Novo, em Matias Barbosa é um marco dessas edificações. Fachada simples com cruz no vértice da empena de telha. Triangulação de duas janelas e uma porta única, com vergas de bico. Embora a ausência da torre única isolada da fachada, essa capela é um exemplo de edificação da primeira fase do Barroco Mineiro. Mais tarde um segundo caminho para o Rio de Janeiro foi aberto em Rio Preto. Da primeira metade do século XIX é a capela do Rosário de Rio Preto, com portas, janelas, cunhais e frontão de granito lavrado, constituindo-se legítima edificação da quarta fase do barroco mineiro.
(2) - Conceição de Ibitipoca teve uma atividade mineradora, que possivelmente tenha começado na segunda metade do século XVIII. A paróquia foi criada em 1818. A devoção a N.S. da Conceição indica a oficialidade da capitania de Minas Gerais atuando na região. A capela é típica da primeira fase do barroco mineiro. Duas janelas formando uma triangulação com a porta, de vergas em bico. A torre do lado direito de quem entra no adro, em dois pavimentos, bem isolada da faixada. A antiga torre em taipa foi substituída pela atual com vergas em arcos plenos denotando o gosto neoclássico. Os retábulos são da quarta fase do barroco mineiro. A pintura do forro da capela-mor em abóbada de berço é também da quarta fase do barroco mineiro. 
Piranga parece ser a paróquia mais antiga da Zona da Mata, criada em 1724. Em torno da primeira capela já se fazia enterramento. Essa capela deu lugar à matriz, cujo frontispício é de 1758, transição da segunda para a terceira fase do barroco mineiro. Essa igreja foi demolida em 1976, na gestão do arcebispo de Mariana, Dom Oscar de Oliveira. A igreja do Rosário de Piranga, embora haja registro de sua presença desde 1762, ela parece ser mais recente, quarta fase do barroco mineiro. 
O Santuário do Bom Jesus de Santo Antonio do Pirapetinga, (Bacalhau) traz uma curiosidade do barroco mineiro. As sineiras laterais emendam-se com as sacristias. Uma porta central e quatro janelas com vergas curvas em bico; guarda-corpo de madeira; edificação da Quarta fase do barroco mineiro. 

(3) - Quando o mineiro tomara o rumo das áreas proibidas, levava no espírito as angústias do barroco. Compreendamos a importância do caso na vida diferente do minerador que se converte em sertanista, atirando-se com gado e família, à atividade da lavoura. Mas as razões de um sentimento de culpa, que a riqueza fácil fizera despertar na mente de seus pais, já não substituíam, porque a decadência viera e a prosperidade findara. O mineiro arruinado alcança a redenção na pobreza e na insegurança da nova aventura. Sua fé não mais requer a ostentação; e a primeira medida, no círculo de suas relações, é levantar a capela modesta, simples e comum. A Mata impunha-lhe um retorno ao primitivo. Em seu espírito, em seu estilo, a natureza sobrepõe-se ao ornamental. Sua morada espaçosa e imensa, é, todavia, sóbria. Do passado apenas se inspira nos santuários e nos anjos que o acompanharam na retirada. Do ponto de vista das convicções políticas, permanece um liberal. As derrotas de 1842, que forçaram novas retiradas da região do centro, exacerbaram o sentimento democrático (MERCADANTE, P. 1973, p. 132)

(4) O terreno onde se localiza a Fazenda São Mateus, em Juiz de Fora, pertenceu a Matias Barbosa da Silva de 1709. Os herdeiros de Matias Barbosa venderam a propriedade a Manoel do Vale Amado, 1782. O Construtor da casa de moradia da fazenda foi José Nogueira da Gama, conhecido como Visconde Nogueira da Gama, em 1803±. O Dr. Cândido Tostes adquiriu-a dos herdeiros do visconde, em 1890. A fazenda foi visitada por diversas personalidades ilustres brasileiras e muitos viajantes estrangeiros vazem referências a ela. Em 1845, Dom Pedro II; em 1933, o Presidente Olegário Maciel, na companhia de ministros e secretários de estado, no mesmo ano em que faleceu. (GOMES, L. 1933)

(5) - MOURA, Antonio de Paiva. Ecletismo. In: A metamorfose de Minas no "site" www.asminasgerais.com.br. 
(6) - Em Santo Antonio do Pirapetinga (Bacalhau), no Santuário do Senhor Bom Jesus, os painéis da nave e da capela mor, do pintor Francisco Xavier Carneiro, trazem a marca do mestre Athayde, que dourou o sacrário da mesma capela. Ilusionismo perspectivista com efeitos arquitetônicos; ornatos em guirlandas e rocalhas. Os quatro evangelistas sustentados por púlpitos que quebram os cantos do forro a partir da cimalha. Francisco Xavier Carneiro é um dos expoentes do ciclo rococó da pintura mineira, transitando na quarta fase, parceiro de Athayde em diversas obras, na primeira metade do século XIX. Nessa capela ele trabalhou de 1806 a 1840 (MIRANDA, S M. 1984.)