HUMBERTO MAURO
Filho de pai italiano e mãe mineira, nasceu Humberto Duarte Mauro em 30 de abril de 1897 na Fazenda São Sebastião, em Volta Grande, distrito de Além Paraíba. A progressista Cataguases recebe Mauro em 1910. Curioso das coisas artísticas e mecânicas, estudou engenharia (cursou um ano), eletricista, musicista, entendido em rádio, também se interessou por teatro e literatura. Desperta para a fotografia por volta de 1925, influenciado por Pedro Comello, com quem chegará ao cinema. Munidos de uma Pathé-Baby (9,5 milímetros, com perfuração no meio ) filmam uma história de cinco minutos - Valadião, o Cratera - cuja trama é o rapto de uma mocinha por um bandido e o seu resgate junto a uma pedreira. O próximo passo seria a tentativa de realização de Os Três Irmãos (1925), filme que se mostra inviável frente à estrutura de cinema existente em Cataguases. Entretanto, segundo nos conta Humberto Mauro: "... vieram as aspirações mais arrojadas. Ia levando à sério e insistindo numa atividade que escandalizava as pessoas rotineiras e sensatas. Começavam a pôr de quarentena a minha sanidade mental". O fascínio pelo cinema e a perspectiva de bons lucros, levam dois comerciantes de Cataguases, Homero e Agenor Cortês a associarem-se a Mauro. Fundam, em 1926, a Phebo Sul America Film, com capital de 150 contos. Com uma verba de 12 contos realizam Na Primavera da Vida, cuja ação acontece na fictícia Vila de São João, situada na divisa entre dois estados não identificados. A história é simples e só tem dois cenários. A principal interprete feminina é a linda filha de Comello, Eva Nil, "artista sensível e vibrátil". Comello logo se afasta da Phebo levando consigo a filha, que se torna atriz de uma comédia que filma no ano seguinte: Senhorita Agora Mesmo. Mauro e os sócios produzem Os Mistérios de São Mateus, mas que fica inacabado. Em 1927 a Phebo realiza, com um orçamento de 20 contos, Tesouro Perdido. A produção não tem atriz para interpretar a mocinha. A moral da época dificulta o recrutamento de possíveis substitutas de Eva Nil. É assim que abre-se o espaço para Bêbe (mulher de Mauro) tornar-se Lola Lys, a mais nova estrela do cinema nacional. Durante as filmagens Mauro demonstrou não so todo o seu conhecimento e inventividade técnica, como também todo o aprendizado intelectual colhido com algumas personalidades do modesto cinema brasileiro. Segundo Mauro "a natureza era surpreendida, e dava-se tratos à bola para suprir com expedientes os meios mecânicos: confeccionei relâmpagos e tempestades usando luz solar, um pano preto e um regador". Tesouro Perdido ganharia a Medalha de Bronze como melhor filme nacional de 1927, concedida pela revista Cinearte, dirigida por Ademar Gonzaga. Em 1928, filmam Brasa Dormida (36 contos de gastos com produção). No campo técnico Mauro conta agora com o reforço do hábil fotógrafo Edgar Brasil, o que permite a evolução da linguagem cinematográfica. O filme é um sucesso: durante os sete dias da semana de lançamento teve a maior bilheteria da cidade. Entretanto a crítica é ácida como a que faz Paulo Duarte, do Diário Nacional: "Brasa Dormida é uma fita detestável. Enredo simplesmente bobo". A próxima produção é Sangue Mineiro (1929), o mais caro empreendimento do grupo, com custos de 48 contos. A trama se desenvolve numa seqüência de encontros e desencontros amorosos, onde ousadas iniciativas técnicas são introduzidas, como os movimentos de câmara e a direção de atores. Problemas com a distribuição inviabilizam a Phebo. Humberto Mauro muda para o Rio de Janeiro, encerrando o importante ciclo de Cataguases, iniciando outro, com a mesma garra e talento. Na capital da república trabalha com Ademar Gonzaga, colaborando na fundação da Cinédia, onde faz Lábios sem Beijos (1930) trama "romântico familiar", com o qual ganha o primeiro lugar no concurso do melhor filme brasileiro do ano, promovido pelo Jornal do Brasil. Em 1933 realiza Ganga Bruta. O filme conta a história do jovem engenheiro Marcos Resende (Durval Belini), que descobrindo a traição da noiva às vésperas do casamento, mata-a impiedosamente na noite de núpcias. Julgado e absolvido, muda-se para uma cidade do interior onde conhece Sônia (Deá Selva) e se apaixona por ela. Sônia corresponde ao amor, mas é noiva de Décio (Décio Murilo). Começa então um inevitável conflito. Apesar de não ser propriamente cinema falado, também não é um filme silencioso: tem aspectos sonoros, trilha musical e algumas poucas falas. No lançamento, Ganga Bruta é um fracasso de crítica e público, hoje considerado pelos estudiosos e críticos como filme clássico brasileiro. O crítico francês Georges Sadoul elege Ganga Bruta como ...um dos filmes mais importantes do cinema mudo mundial." Com Carmem Santos, atriz e empresária de origem portuguesa, ajuda na organização da Brasil Vita Filme, onde dirige Favela dos Meus Amores (1934), Cidade Mulher (1934) e Argila (1940). Vincula-se ao Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), onde produz dezenas de documentários. Graciliano Ramos, a respeito do filme Descobrimento do Brasil, escreveu: "Temos enfim um trabalho sério, um trabalho decente: a carta de Pero Vaz reproduzida em figuras, com admiráveis cenas, especialmente as que exibem multidão."
Ano - Obra Cinematográfica 1925 Valadião, o Cratera 1926 Na Primavera da Vida 1927 Tesouro Perdido 1928 Sangue Mineiro 1928 Brasa Dormida 1930 Lábios sem Beijos 1932 Mulher 1933 Ganga Bruta 1933 Voz do Carnaval 1934 Favela de meus Amores 1935 Cidade Mulher 1936 Descobrimento do Brasil 1940 Argila 1943 Segredo das Asas 1952 Canto da Saudade
BIBLIOGRAFIA SOBRE HUMBERTO MAURO
VIANY, Alex. Introdução ao Cinema Brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca de Divulgação Cultural/MEC, 1959. FERREIRA, Geraldo Santos. Plano Geral do Cinema Brasileiro. Rio de Janeiro: BORSOI, 1973. GALDINO, Márcio Rocha. Minas Gerais Ensaio de Filmografia. Belo Horizonte: Comunicação, 1983. GOMES, Paulo Emílio Salles. Cinema: Trajetória no Subdesenvolvimento. São Paulo: Paz e Terra, 1986. MAURO, André Felippe. Humberto Mauro - o pai do cinema brasileiro. Rio de Janeiro: IMF Editora, 1997. |