|
 |
HISTÓRICO DE CHAPADA DO NORTE |
|
1 - SANTA CRUZ DA CHAPADA - 1728 -
O vale do rio Araçuaí começou a ser povoado por colonos no começo do século XVII, a partir das primeiras bandeiras que exploravam o ouro de aluvião nos seus vales. Neste processo os colonos foram espalhando pequenas vilas ao longo dos rios, marcadas pela ocorrência mais feliz de minério. Da cabeceira à barra do Rio Araçuaí, são marcantes as fundações de Minas Novas, Chapada do Norte, Berilo, Virgem da Lapa e Araçuaí, situadas todas à distância de aproximadamente 20/25 quilômetros uma da outra (3 léguas). São essas as cidades que foram o eixo daquilo que comumente se entende por "Vale do Jequitinhonha": região marcada pela agricultura familiar, forte migração, estagnação econômica histórica.
Quase que em paralelo à região descrita acima situou-se, até começos do século XIX, o antigo Distrito dos Diamantes. Este partia do Serro, nas cabeceiras do rio Jequitinhonha, corria rumo Nordeste ao longo da Chapada de São Domingos, que reparte os rios Araçuaí e Jequitinhonha, até a barra do rio Araçuaí; neste ponto infletia para Norte, até a altura do Grão Mogol, e depois rumo Sul, até o rio Paraúna, e daí rumo leste, novamente fechando nas cabeceiras do rio Jequitinhonha. Embora tenha variado um pouco no correr do tempo que existiu, este foi, aproximadamente, o traçado geral da Demarcação Diamantina.
A leste do vale do Araçuaí, paralelo à direita, situava-se até quase fins do século XIX a floresta Atlântica que ia da Zona da Mata mineira até a região do Recôncavo baiano.
Entre estas duas demarcações, uma política outra natural, o vale do rio Araçuaí foi uma espécie de cunha de ocupação pioneira e colonizadora que ligou o baixo Jequitinhonha e o sudoeste da Bahia à zona mineradora de Minas Gerais. Foi, portanto, uma trilha de povoamento e descobertos de ouro, povoando-se intensamente à medida que crescia a população, tanto naturalmente quanto por migração. Saint-Hilaire (1975), em 1818, calculava em 60.000 pessoas os habitantes da então Vila de Minas Novas do Fanado, que compreendia todo o vale Araçuaí abaixo; Teófilo Benedito Ottoni (1847), em 1847 calculava em 100.000 os moradores da mesma região: dadas as duas estimativas, pode-se calcular um crescimento populacional de 66% em 30 anos.
Santa Cruz da Chapada, surgiu em decorrência direta da descoberta e exploração do ouro à margem direita do Rio Capivari, pelos conquistadores bandeirantes que juntamente com Sebastião Leme do Prado, após as descobertas de ouro às margens do Ribeirão Bom Sucesso, local que logo recebeu o nome de Arraial das Lavras Novas dos Campos de São Pedro do Fanado do Araçuaí (Minas Novas), resolveu continuar as suas explorações chegando às margens do Rio Capivari.
Segundo Pizarro e Araújo, dois povoados, denominados Paiol e Itaipaba, que se formaram por volta de l728, quando partiram da Vila do Fanado (atual Minas Novas), deram origem a Chapada do Norte, tendo seus moradores por aí se deslocado, devido às descobertas auríferas na área.
Criada a freguesia denominada Santa Cruz da Chapada, foi ela extinta e posteriormente restaurada em 1850. Subordinada a Capitania da Bahia, administrativa e militarmente desde l729, passa mais tarde em l757 a integrar o território de Minas Gerais, devido aos problemas gerados pelas extrações diamantíferas. Eclesiasticamente continuou a pertencer ao arcebispado da Bahia, sendo nessa condição mencionada em fonte datada de l759, quando a freguesia somava 286 fogos e 2l79 almas. Subordinou-se depois ao bispado de Diamantina, pertencendo atualmente ao de Araçuaí, criado em l913.
Localizada entre pequenas elevações, a cerca de 20 Km da Vila do Fanado, o povoado contava entre 1817/l820, com cerca de 80 casas térreas construída de adobe . No final do século XIX, esse total se elevaria a 192 casas, distribuídas por 06 ruas e 03 praças, não tendo, portanto, edifícios públicos .
Grande parte desta população esteve ocupada na mineração até os começos do século XIX. Daí por diante a mineração perdeu o ímpeto, declinou rapidamente, e as atividades agrícolas e pastoris foram ganhando importância, paralelamente a uma mineração intermitente, praticada nos tempos de seca. Segundo Saint-Hilaire (1975) a mineração estava em franco declínio em 1816; Mawe, Pohl, Spix e Martius já descreveram também, no começo do século XIX, um refluxo minerador e gradativo êxodo de população na direção da Mata Atlântica.
A migração do vale do Araçuaí, porém, não era devida exclusivamente à decadência de mineração. As terras de lavoura, exploradas no sistema de queima-e-pousio, também se esgotavam. Spix e Martius foram autores que descreveram este declínio de fertilidade, que empurrava a população para a Mata, a terra nova e a abundância das novas lavouras. Ao mesmo tempo que os excedentes populacionais saiam, a terra ia se pulverizando entre os herdeiros, configurando uma área marcada pelas unidades agrícolas familiares, com o tamanho reduzindo-se no correr do tempo.
Em meados do século XIX tornou-se muito intenso o movimento migratório da população do Jequitinhonha em direção à mata; neste processo, foram sendo instalados povoados, fazendas e posses a leste, no Mucuri. Lá, a extraordinária fertilidade da terra nova de floresta possibilitava uma abundância de mantimentos. Para a população que ficou no Jequitinhonha, as condições de sobrevivência ficaram progressivamente mais difíceis, pois a terra definhava em fertilidade à medida que crescia a população, e mais tímida ficava a atividade mercantil com o declínio da produção mineral.
Por isso o vale do rio Araçuaí - e Chapada do Norte em particular - foi um grande expulsor de população. Uma parte migrava definitivamente para a mata, posseando as terras de fronteira. A outra rota era a migração temporária, presente nesta região desde os finais do século
XIX: foram os migrantes temporários do Araçuaí que forneceram a mão-de-obra necessária para a cafeicultura da Zona da Mata de Minas Gerais, para a região do Mucuri e para o baixo Jequitinhonha. Segundo os relatos, saiam de Chapada do Norte grandes levas de trabalhadores, marchando em fila indiana e cantando, guiados por um cabo de turma; eram os "chapadeiros", trabalhadores temporários do café e de outras lavouras:
"Os chapadeiros, ou cacaieiros, com seus trajes característicos, o seu cacaio às costas à guisa de mochila, a sua organização um tanto rígida, como que militar, caminhando longe sob o comando de um só chefe com os seus cabos, dirigindo-se ora pelas redondezas até a região de Teófilo Otoni, ora para mais longe. Iam até as lavouras e cafezais de São Paulo e de lá voltavam para outros destinos. Sempre sob o mesmo comando, a mesma arreata, embalados pelas cantigas à noite ao som da viola ou do cavaquinho que nunca se separavam. Traziam sua 'troca' de roupa, não raro tecida e tingida por eles mesmos ou buscadas fora, no Arraial de São Domingos. Os chapadeiros' criaram em Santa Cruz da Chapada de Minas Novas um bloco de costumes que eles mesmos se encarregariam de levar para os recantos de Minas e de São Paulo. Sua finalidade era a de empreitadas para as roças e trabalhos da lavoura. Todos com calças pretas - a camisa amarelada os da Chapada e de tom azulado os de Água Limpa. Com sua troca de roupa e seus panos por eles mesmos tecidos e tingidos, suas 'pracatas' de couro cru somente usados em terrenos ásperos, em fila indiana para facilidade nas trilhas e no vadear as pinguelas; com um cabo experimentado na frente para decidir nas encruzilhadas." [Ribeiro, 1966:189]
Mas, alguns, moradores de Santa Cruz da Chapada se deram bem, comercializando mercadorias produzidas no lugar como milho, algodão, cana e outros, levando-as através de tropas para diversos lugares entre eles, para Filadelfia (Teofilo Otoni). Levavam os produtos e traziam outros que estavam em falta no Povoado. Por volta de 1938 só existiam dois comércios que era da família Lourenço, na qual um cuidava mais da negociação de gado e muares e o outro do comércio de mercadorias como cobertor, sal, etc. Este tinha a sua própria tropa para o transporte .
2 - CHAPADA DO NORTE
Com uma área de 828 Km2, sua denominação foi dada pela lei 2.764 de 30 de dezembro de l.962, que o emancipou, desmembrando do município de Minas Novas, vindo a instalar-se à 03 de Março de l963, recebendo o nome de Chapada do Norte.
A população do antigo Distrito que em 1.920 era de 9.187 habitantes, elevou-se em 1.970 para 14.073. Hoje sua população é de 15.206 habitantes, sendo 4.844 na zona urbana e 10.362 na Zona Rural.
Chapada do Norte é um município localizado ao Nordeste de Minas Gerais, no vale do rio Jequitinhonha, situado, segundo a classificação do IBGE, na MRH Mineradora do Alto Jequitinhonha.
A sede municipal está situada às margens do rio Capivarí, que poucos quilômetros abaixo da cidade desemboca no rio Araçuaí, que por sua vez desagua no Jequitinhonha. A topografia do município é marcada pelo contraste entre as elevações - chapadas, cujo topo é plano - e as vertentes ou grotas, de inclinação acentuada; ao fundo das grotas costumam existir pequenas áreas planas, que denominam-se tabuleiros. A vegetação acompanha de perto a topografia: no topo das chapadas existe a brotação dos arbustos retorcidos e de cascas grossas, característicos do cerrado; à medida que se desce as grotas a vegetação ganha densidade e tamanho, a ponto de, nos fundos dos vales, emergir muitas vezes como uma formação quase que de floresta.
|
|
 |
|