Cult'uais VenhameVERDEperto UniVLERCidades Revista d'As Minas Gerais Pesquisa Editoria d'As Minas Gerais Livro de Visitas
AS ORDENS RELIGIOSAS EM MINAS GERAIS
As Ordens Religiosas em Minas Gerais


As Ordens Religiosas (jesuítas, franciscanos, beneditinos, carmelitas) foram proibidas de entrar em território mineiro. Os frades eram acusados de contrabando de ouro e, do alto de seus púlpitos, conclamavam o povo ao não pagamento de impostos.

O historiador Diogo de Vasconcelos refere-se a eles assim: "Nas Minas não obedeciam os clérigos a ninguém. Isentos da jurisdição civil, não respeitavam nem o seu Bispo, e os frades apóstatas não o conheciam por seu prelado. Daí a libertinagem e a simonia e apenas um haveria menos concorrente aos gozos materiais, que a riqueza e o luxo sabem engendrar. Eram negociantes, mineiros, senhores de engenho e de escravos; mas, sobretudo fatores desabusados e sem peias dos contrabandos e extravios do ouro. As autoridades não podiam tocá-los, e em geral não havia quem mal os quisesse por esta conveniência de extraviarem o ouro para si e para os amigos."

Tal fato, porém, engendrou outro tipo de organização eclesiástica, fazendo com que a população se estruturasse em Irmandades Religiosas. Os grupos interessados em fundar uma irmandade elaboravam uma espécie de carta de compromisso, direitos e deveres, que era submetida à Coroa Portuguesa e à Igreja Católica. A construção dos templos religiosos era de responsabilidade da própria população, obtendo recursos através de doações e dízimos, os irmãos contratavam artistas e artesãos para a edificação de seus templos.

Toda capela tem a invocação de um santo padroeiro. No início do povoamento eram as irmandades do Santíssimo Sacramento que patrocinavam os sacramentos de todas as igrejas. Nos primeiros tempos ela reunia quase toda a população. Com o passar dos anos, com o crescimento da economia, com a diversidade social e de ocupações foram surgindo outras irmandades. Passaram a ocupar os altares laterais das igrejas ou criaram os seus próprios templos, cultuando ali o seu santo protetor.

No processo de criação de novas irmandades, conforme seus compromissos, Fritz Teixeira identifica as seguintes características sociais permeando a criação das mesmas: "O preconceito racial é rigoroso e este fato obriga os homens de cor a se reunirem em irmandades próprias, o que implica no mesmo movimento de aglutinação dos outros grupos brancos, aristocratas e comerciantes. Aliás, os que se unem em primeiro lugar são os brancos, os quais, não permitindo a entrada de pretos, criam a motivação para que estes organizem suas irmandades, sendo típico neste sentido o exemplo da Rosário do Alto da Cruz, no primeiro período. As corporações, em geral, desempenham função assistencial e previdenciária aos seus filiados, chegando mesmo a emprestar dinheiro a juros. As irmandades são, por isso, regidas por princípios estatutários de disciplina coletiva bastante rígida."

Além do papel religioso, as irmandades desenvolveram uma função de assistência social junto aos seus filiados. Pertencer a uma irmandade era a certeza de ser socorrido em casos de necessidades econômicas, de ver garantido um número de missas para a alma do defunto: nesta época, acreditava-se que quanto mais missas mais garantia de que a "alma" do irmão falecido iria repousar junto à Deus. Pertencer à irmandade era ter garantido um lugar para ser enterrado, normalmente junto à própria Igreja da Irmandade. Atuaram também na construção de hospitais e na proteção de menores desamparados.

Nesse sentido, as irmandades desempenharam um papel auxiliar a ação do Estado, contribuindo para assegurar a ordem estatal absolutista. As irmandades, pelo que se sabe, não se opuseram ao regime de dominação vigente nas Minas. Só em casos isolados é que os frades se opunham à ação do Estado, principalmente quanto à cobrança do quinto. Algumas Igrejas chegaram a possuir escravos. A população, por seu turno, passou a expressar as suas necessidades e reivindicações através dessas irmandades. Não demorou para os conflitos virem à tona, como se podem ver pelos inúmeros processos movidos umas contra as outras ao longo do século XVIII.

A queda da produção de ouro provoca o fechamento de vários templos. Ao final do Século XVIII, quando as minas não sustentam mais a economia que se organizara em torno do metal, há o enfraquecimento das irmandades, provocando um refluxo da população para o interior das antigas matrizes. O esgotamento do ouro encerra o período glorioso das irmandades.