|
|
CIÚMES |
|
CIÚMES
Inês
Acordei sobressaltado por um pesadelo terrível. Eram 05h30min da manhã, desta segunda chuvosa. Pensei em você, talvez por conta da solidão que me acompanha quando me perco nestes dias de claridades incertas. Enviei-lhe o breve e-mail de desculpas. Fiz um café, coloquei um disco, um piano interminável, que logo me aborreceu. Mas veio a idéia de ler a Memória de minhas putas tristes que você me emprestou. Fiquei amigo do velho após a noite-que-não-houve com a ninfeta Delgadina. Parece que ele teme o amor! Logo descobrirei. Mas não é o meu caso. Será? Não sei se descobrirei.
Sentei-me aqui para lhe escrever num impulso.
Lembrei-me de um poema de Octavio Paz: seu amor dorme na cama, embalada por sonhos azuis: apenas isto os separa. Quanto a nós, triste de nós: tudo separa! Não há alegria nos ciúmes. Acho que nutres o desejo de uma exclusividade sobre mim. Defino o ciúme: posse delirante do outro. Porém, sou como o velho jornalista - amante de Delgadina: tenho apenas dores pelo corpo e uma vaga idéia utópica acerca de minha liberdade precária. Isto é muito pouco para alguém me desejar com exclusividade.
Sou quase nada! Por favor, não se atormentes por mim.
Quero-lhe bem.
Jorge
|
|
|
|