MEMÓRIA DE POEMAS |
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PRIMEIRO POEMA 3 SEGUNDO POEMA 3 PORTEIRAS SE ABREM 5 PRAÇA DA LIBERDADE 5 REPÚBLICA FEMININA "BEM NA BÔCA" 7 O ARTISTA 8 GALOPANDO SOB ESTRELAS 9 NA EMOÇÃO DA AÇÃO 10 OURO PRETO EM CHAMAS 10 RUMO AO PANTANAL 14 DE SHORT 15 ALTO VERÃO 15 NO SOL 16 VIDEO-GAME 18 MATANÇA 18 POEMA EM DOIS TEMPOS 19 CHUVAS TROPICAIS 20 AO RIO COM AMOR 20 NEW YORK 21 FILTROS 22 TUTU COM FANTASMAS 22 VENDO ESTRELAS COM UMA ESTRELA 23 A Pena 24 IN VINO VERITAS 24 ARACNÍDEA VULVA 24 NA ALCOVA 25 ELA 26 A ARANHA 26 MIGUELÂNGELO 27 VELHAS TRAÇAS 27 SOLIDÃO 28 MORTE 28 EXISTIR 29 NOTURNO 30 HOMENAGEM A ALPHONSUS 30 MARIANA 31 POEMA PARA UMA MULHER QUE NÃO EXISTE 31 ÚLTIMO POEMA 32 DEUS 33 Maçã 33 Beata 33 Torneiras 33 Tropecei 34 HAPPY HOUR 34 TREM 34 Um Para o Outro 34 Brasileiro ? 34 Os Cães e os Postes 34 Poe 35 CIDADE do INTERIOR 35 Erundina 35 Meu tio Lulu 35 NESSA CALMA INFERNAL 36 VILARICACHAÇA 36 JUNTO AO ABISMO EM VERTIGEM FORMIDÁVEL 38 PRA AJUDAR NA FOLIA 38 POEMA EM AZUL 39 POEMA EM VERDE 39 POEMA EM AMARELO 40 POEMA EM ROXO 40 POEMA EM PRETO E VERMELHO 40 ROSA 41 MINHA PRIMA CRISTIANA 41 Pra que 42 O OLHAR DE PRISCILA 42 Atuando 43 ZÉ 43 MAMBERTIS 44 FOGO 45 REVOLUÇÕES 45 LIVING 46 Tremelicando 46 Realizando Fantasias 47 Felatio 48 PASSAGEM 49 CAMINHO 50 ETAPA 51 LINDA CAMINHADA 52 "VIAJAR AINDA É VIAJAR" 52
Ó vós que entrais Deixai toda esperança Dante ( Do Portão do Inferno)
Nem toda hora é obra Nem toda obra é prima Algumas são mães Outras são irmãs Algumas clima Paulo Leminsk
PRIMEIRO POEMA
Entranhas fundo do poema : Amor Populismos História Sentimentos Lugares comuns Recordações Solidão d'alma Sensações Lembranças de parnasianas eras Grandiloquencias Filosofia O quotidiano Revoluções Experiências co'a palavra usar da palavra usada palavra ossada assada da língua ouso palavra suada palavra meditada palavra colorida palavra repentina palavra.
SEGUNDO POEMA
Na rota antes traçada destroços na curva inesperada. Destroçada a rota no meio do caminho traço de novo avanço sem fim. Mas além da reta espero curvas, atalhos, desvios pois há que contar com o acaso que vida não é uma reta. Me abstraio e figuro no complexo desenho da vida e exulto pois há na estrada depois da tempestade de repente um arco íris.
PORTEIRAS SE ABREM
Curral de estrelas se abrindo para o infinito. Uma nova região me penetra simbolizada em caminhos etéreos.
Porteiras de Minas com cheiro de esterco e grandeza do universo se misturam
Através do movimento dos astros ( as revoluções ), Os corpos se atraem ( é da física ), Avanço no cosmos. Ah vontade de irmos juntos, sem peso, Vagando - brilhando, orgasticamente no espaço,
Presente o cheiro de esterco das porteiras de Minas, mas sem preocupação de qualquer escândalo.
Do alto te vejo, ó Luminárias do Sul de Minas cujo nome deves à misteriosas luzes, só que agora as pastagens são um campo de estrelas e bebo-lhes o néctar.
Vem amor, Façamos a Via Láctea Do jeito que a gente gosta.
PRAÇA DA LIBERDADE
Meio dia, nos jardins poesia da Praça da Liberdade, nos prédios burocracia. Todo dia é de nomeações e muitas promessas na Praça da Liberdade. Despachos, cafezinho, papel pra lá, cafezinho, papel pra cá, cafezinho, na Praça da Liberdade. Telefone do gabinete tal, chegou o parente de fulano, reclama da demora beltrano. Confusão oficial na Praça da Liberdade. O senador telefonou raivoso dizendo que ele é senador e o deputado, deputado. Cortaram a verba em Brasília, o processo sumiu, na Praça da Liberdade.
Minas está onde sempre esteve, isto é: Muito antes pelo contrário.
O governador não está sabendo, mas o secretário... Conversas ao pé do ouvido na Praça da Liberdade. Falou mais foi demitido. E o aumento do funcionalismo?
Ano de eleição é outra coisa na Praça da Liberdade. O contínuo vai fazer setenta anos, não se aposenta para não perder uns proventos. A secretária passou baton e muita sinecura na Praça da Liberdade. Enquanto isso, morria de nostalgia com saudades da época do footing, o coreto da Praça da Liberdade, hoje restaurada pela MBR.
REPÚBLICA FEMININA "BEM NA BÔCA"
Bem na boca, já quase um poema. Estuda-se Aprende-se Aulas - E a lição é na ponta da língua.
Bem lá, bem alí, do lado de cá, do lado e lá. Segredos de república. "Beijo que estreita na boca palavras apaixonadas", não ditas. Segundos? Minutos? Horas? A eternidade? E o batom? Onde fica? Sensação orgástica. Ah que delícia! é bom demais. Bem na Boca já é poema
O ARTISTA
Não sou um burocrata, sou um artista, não um profissional liberal.
Sou "antena da raça", romper obstáculos, saltar fronteiras, é o meu destino absoluto.
Em meio ao horror da humana condição, o fogo queima teias desnudando a verdade, beleza estonteante, em mármore esculpida.
Sou dessa gente que às vezes traz desordem porque necessária à esperança.
No cotidiano de castelos de areia, vejo o vento que venta, que venta de séculos.
Limpo pincéis, entro em cena com a vida em jogo, aceito o desafio da folha em branco, brinco, pela orelha que traduz ondas sonoras, entra a música para possuir o corpo, sapatear e soltar pássaros da garganta. Ao movimento de "câmera": Ação. Do sonho tenho a chave e ao louco torno são.
Risco uma estrela no céu atento a Deus pelo pão dos homens.
GALOPANDO SOB ESTRELAS
Vou jogar o cabresto vou tirar o cabresto vou jogá-lo pra lua vou jogá-lo no vento bem no meio da mata. À todo galope À todo galope À todo galope ventas abertas na brisa da noite vou tirar o cabresto no meio da mata a trilha e o cipó, o campo, o orvalho, crinas brilhando, barulho de cascos no seio da terra. Como Dom Perignon estou bebendo estrelas
NA EMOÇÃO DA AÇÃO
Na emoção da ação o coração dispara. Não ação direta ou do outro lado do mundo desencadeado, ambições se chocam, a morte ronda no vazio o fogo reacende e o coração dispara. A tensão é o limite na emoção da ação.
OURO PRETO EM CHAMAS
Trêbado subo as carcomidas escadas do velho Hotel Toffolo de Ouro Preto na tortuosa Rua São José, o mais antigo da cidade, citado em poema de Drummond.
Eu que sou amigo da madrugada, nela me comprazo, dela usufruo como bom amante e em Ouro Preto não me furto, mesmo sob a chuva fina, intermitente, a mais uma num último e misterioso buteco num beco próximo a Antônio Dias em cuja casa dizem ter morado o Aleijadinho.
O hoteleiro incomodado me dá a minha chave com ar contrariado de em tais horas ser acordado.
Sonolento na cama, cigarro na mão, adormeço.
Só no dia seguinte percebo que o cigarro na mão virou redondo buraco na colcha, lençol e colchão. Constatando o acidente os donos do hotel reclamam que aquilo poderia ter virado imenso incêndio.
Imagino então o Toffolo em chamas. A noite de vento espalha fagulhas. Os casarões ao lado são com o Toffolo uma só fogueira.
A Casa dos Contratos, hoje Casa dos Contos chamada, foi lugar de ouro, poder, traição e o primeiro inconfidente morto, suicídio ou não, o poeta Cláudio Manuel de Gonzaga irmão. Arde logo ao lado que é Toffolo o segundo casarão.
E já o fogo desceu pros lados da antiga matriz, a augusta matriz do Pilar, e sobe a Rua Direita, velhas casas, inflamáveis a crepitar.
A casa da Baronesa crepita sua singeleza em esvaída nobreza.
Grande dano também na ex-casa de câmara e cadeia, o Museu da Inconfidência: aleijadinho, mobílias, peças, armas, oratórios, vestuário, quadros, papéis, testemunho inolvidável do que em Ouro Preto se passou, incluindo a forca do mártir, queimam como se fossem a própria História que se queimasse. Nem bandeira restou. A imensa Libertas quæ seras Tamem em ondulantes chamas cinzas virou.
O fogo descendo a encosta em direção a Antônio Dias vai consumindo capelas, casas de artistas, poetas e também das Marílias belas.
Mas o jardim suspenso da casa de Gonzaga em por estando mais alto de todas as chamas escapa.
Os ossos nas tumbas dos cemitérios e chãos de igrejas queimados anseiam por outra libertação: exaltar Vila Rica na História e na tradição.
Ah! Que sonho tenebroso Ouro Preto ver em chamas, ver surgir no lugar da cidade, asfalto, shopping center, concreto, que muitos vilões desejariam que nem Silvério dos Reis pra terem dívidas perdoadas e verem encher suas bolsas.
O palácio dos Governadores cheio de crimes de sangue expia suas iniqüidades: fica igual ao Morro da Queimada em chamas alucinantes.
A menina dos olhos de Antônio Francisco Lisboa, a igreja de São Francisco de Assis, pra estupor da arquitetura mundial tem a pedra sabão da escultura do frontispício genial, a escorrer no calor que nem orgasmo feminal. Os cabelos encaracolados dos anjos de mestre de Athaíde, mais mulatos ficam antes de se dissolverem em pó na temperatura infernal.
Os negros que não se importam, suas costas já estão acostumadas sob o fogo dos chicotes no inferno das senzalas.
Os fantasmas criados pelos estudantes ou não, vão abandonando as repúblicas, torres de igrejas, porões. Antônio Dias e Pilar, antes rivais, no mesmo fogo ardem, iguais.
A Casa da Ópera graciosa, o Pouso do Chico Rei, os restos das festas do Triunfo, os sinos, as lendas, tabernas, pousadas, hotéis, o ranço das sacristias e as casas da periferia, com o conjunto monumental, nem Nero viu, espetáculo igual.
No centro da Praça feito de ferro e pedra, pairando acima do fogo resiste o monumento ao louco alferes.
Mas o acontecimento sinistro que clama os anjos do céu já entre as serras o apogeu atingiu e do Itacolomi se vê o clarão diminuir.
Os restos de Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, fumaça nos ares são, já as brasas esfriam, já a neblina desceu.
A densa bruma só nos permite ver mal o perfil das ruínas, como se tudo estivesse normal.
E normal tudo está incluindo o simpático Toffolo, pois tudo não passou da imaginação de um poeta, a partir de um pequeno acidente, ver em chamas a terra dos ancestrais.
Mas de tudo fica um aviso quando entrares nessa grande terra, que é bom ter Ouro Preto sempre conservada e aberta em hospitalidade mineira ao visitantes de toda terra.
RUMO AO PANTANAL
No altiplano brasileiro, nessa imensidão, parece que o céu vai descer sobre a terra. Na estrada, antes da chuva, o vento, quase vendaval, fustiga o automóvel, derruba árvores, sacode palmeiras, carrega folhas, insetos, pedras, poeira e na chuva de pingos grossos, toda a abóboda, tudo é cinza. Raios descem no horizonte em formidáveis faíscas verticais. Após vem o calor, o imenso calor do centro da América do Sul. O Sol, imensa bola vermelha não turva a vista, enevoado. Na estrada pouca gente se vê, exceto nas proximidades das cidades incrivelmente centro-oeste, desse inacreditável Brasil de diversidade escandalosa. Nessa época do ano o capim é ocre como um imenso tapete que como o mar se perde, se funde com o horizonte. Arvores isoladas em meio ao descampado, gado, verdes esparços, grandes espaços de terra preparada para a soja. Vamos a 100,120, às vezes 160 km/h atravessando retas descomunais.
Finalmente Cáceres, fronteiriça à Bolívia. Festival de pesca e de Rock. Há que descer o Rio que corre aparentemente manso o mundo, com seus mistérios, jacarés, piranhas, capivaras, garças, milhões de pássaros, onças invisíveis e os segredos do pântano. O Brasil é imenso meu Deus! Paraíso Agora.
DE SHORT
Estás próxima a mim e o vento sopra agradável agitando teus cabelos. tu os ajeitas vaidosa e com certa timidez e há no silêncio uma agradável sensação comum.
Olho as tuas mãos, vontade de tocá-las, fito-te e desvias o olhar, mas não consegues esconder o prazer e a excitação que a minha presença te causa.
Hoje usas short, ontem seria proibido. Épocas de vestidos até o calcanhar, maiôs até os joelhos, desejos controlados, o beijo oficial de leve no noivado. O padre, a igreja, a confissão: - Minha filha tem de ir à procissão. O namoro proibido e a moça na janela suspira ao luar. Tua mãe, minha avó, meu pai, tua tia, também tiveram avós.
Hoje usas short.
O vento continua agitando teus cabelos e aliviando o verão. Olho teu corpo, nos olhamos, teus lábios de batom rosa. O amor é doce, mas a paixão desata tempestades, ciúme, ódio, possessão e são tantos os preconceitos.
De short e tênis branco caminhas, puberemente, desejosa por conhecer o amor, o ar faceiro, o desafio adolescente.
ALTO VERÃO
Sol brilhante no meu rosto e nos corpos das deusas lascivas, narcisas das praias do meu país. "Verdes mares bravios", Praia do Futuro, Boa viagem, Canoa Quebrada, pés na areia das deusas lascivas, narcisas das praias do meu país. Olinda, Farol da Barra, Amaralina, Porto Seguro, troncos esculturais das deusas lascivas, narcisas das praias do meu país. Búzios, Iriri, Montanhas de Minas, estática contemplação, Alto verão das deusas lascivas, narcisas das praias do meu país. Icaraí, Ipanema, Leblon, Barra pêlos dourados, estratégicos, luxorientos arabescos das deusas lascivas, narcisas das praias do meu país. Cabo Frio, Santos e Guarujá Lagoas de Santa Catarina, Guaíba pêlos, cabelos, vento, sal e cheiro das deusas lascivas, narcisas das praias do meu país. Frenesi de seios de todas as formas, exuberância de nádegas miguelangélicas, delírio, Ah onda e coxas torneadas, cor, longuidez de coxas, mergulho, ah-luz-cinação Deus
NO SOL
No sol Luminoso Forte Meu corpo Suor Calor Céu Prazer Orgástico sol no meu corpo. Estou nú É excitante Estou sozinho Oh Deus Masturbação
VIDEO-GAME
A morte na besta, o sol no deserto. Video-Game fatal - pássaros metálicos no sol sobre o golfo, reluzem, o golfo do óleo. Máscaras de gás, cirenes de alarme, estrondo e terror, gemidos no golfo, no golfo do sangue, do sangue do óleo e o sol do deserto, apocalipse no céu do golfo do óleo, o golfo vermelho, e o óleo é negro e o Papa reza pela paz em sua capela particular, enquanto o golfo explode. Dólar no golfo.
MATANÇA
Matança, matança, matança. Não é nos saloons do velho e incivilizado oeste americano, nem na Londres de Jack o estripador, nem só em animais nas florestas da África e do Brasil. É em seres humanos, aqui, ali, em toda parte, por todos os motivos, por motivos banais: a violência. Eu te mato Tu me matas Ele a mata Nos nos matamos Vós vos matais Eles se matam. A inveja, a competição, o ódio cultivado, a calúnia, a difamação, a omissão, o preconceito racial, social, sexual, religioso o estúpido de sangue quente, as traições de salão, as traições de estado, a violência do sucesso, a violência contra o sucesso, a violência contra o fracasso.
E a miséria, a fome, o analfabetismo, a humilhação que violentamente a sociedade deixou crescer.
Eu vos deixo a paz eu voz dou a minha paz.
POEMA EM DOIS TEMPOS
Ânsia de profundezas e angústias em meio ao esgoto das cidades que corre em corações abertos apodrecendo vias e corpos em rotas de medo e sangue homens decrépitos, mulheres curvadas.
Deixar que venham os regatos claros das vertentes das montanhas banhar a dor, banhar a poesia de poesia, cristais luminosos refrescando o verão junto com o vento que nos segreda versos entre as folhas do jacarandá.
CHUVAS TROPICAIS
Calor Sufoco Dedos que apertam a garganta Sufoco e esse calor que invade e a aguardente que queima e esse Brasil, esse Brasil, que muda, não muda que muda, não muda esse Brasil esse Brasil esse calor e a aguardente que queima o povo. Problemático e maravilhoso país, de governos calhordas, de governos calhordas e CHUVAS TROPICAIS
AO RIO COM AMOR
Saúdo-te mui leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Apesar de tudo continuas linda. Todo o sofrimento não foi capaz de tirar tua beleza, tua alegria, tua maneira de viver contagiante, a beleza de tua gente e o fato de seres cidade das mais fascinantes do mundo. A velha Lapa já não é a mesma, nem poderia, mas continua lá, com seus arcos, seus mistérios, sua história e declínio, mas continua. Desde o fim do período escravocrata as favelas cresceram e há balas perdidas inquietantes, mas o samba continua com brilho e garra. Teu sol alucinante, já mais ameno ao se pôr sobre o morro dos Dois irmãos, anunciando tua noite estrelar, sedutora, fervilhante. O velho centro com seus prédios históricos, Municipal, Biblioteca, Rua da Carioca, Rio Branco, Praça XV, Teatros, Colombo. Alguns bairros ainda conservam certo ar de interior e são queridos A orla fantástica com a "Copacabana louca, completamente louca", e zonas que de repente se transformam em praças de guerra, infernais. Os que te amam buscam novas soluções, mais justiça e tudo mexe com o coração. Esse mar embriagador, brilhante que te ajuda a viver, corpos e pés ao som do samba, continuas fascinando o mundo, ó velha capital, a mais brasileira de todas. E há o amor esse mesmo amor que sempre te cobriu de poesia. Saúdo-te Rio Rio, sempre Rio.
NEW YORK
Contam coisas e mais coisas de ti, New York City, The Big Apple, a grande maçã, como os americanos a chamam, a Roma do mundo atual, a cidade que nunca dorme. Italianos, chineses, árabes, japoneses, porto-riquenhos, judeus, brasileiros, europeus, atrás de dólares, dólares, verdes dólares. Um pedaço de pizza na esquina ou um restaurante chinês, um peixe cru num japonês, um filet au poivre num francês, uma tortilha num mexicano ou um prato vietnamês. E hamburguers, hamburguers, hamburguers, com batata frita e catchup e a gloriosa coca-cola, enquanto o super-man sobrevoa a ponte do Brooklin e a estátua da Liberdade paira soberana sobre o porto e os lábios eternos de Marilyn Monroe sopram um beijo sobre o planeta e o jazz explode na noite. Times Square, Wall Street, 5a Avenida, o Village, o metrô, e os guetos pobres como o famoso Harlem, cenário de West Side Story o musical da Broadway. Broadway dos mil teatros, os muitos, grandes e seguidos cartazes luminosos, criando uma atmosfera feérica de cor, de sonho, de magia. Browady, produções, milhões, efeitos especiais, perigosas ilusões, e as estrelas, e as estrelas, as estrelas e o mundo defronte. És apocalíptica New York, mas o SHOW TEM DE CONTINUAR
FILTROS
Filtros, filtros, prodigiosos filtros, eternas beberagens das paixões, iniciática. Dá-me da tua magia para enfeitiçar as moças que circulam em derredor, e a sedução ganha poder, mulheres estonteantes, mais brilho no corpo, nos cabelos, no olhar.
Filtros, filtros da idade média, ensinai-me todos os segredos, filtros de todos os tempos, todas as ervas e o poder de cada uma delas, sentir-lhes a volúpia, realizar prodígios simples e complicados, no esforço-êxtase da fusão alquímica universal
TUTU COM FANTASMAS
O tutu à mineira clássico vem com um pouco de molho de tomate, algumas fatias de cebola, algumas, e pedaços de ovo cozido, tudo por cima na panela de pedra naquela espécie de pasta de feijão batido que é o tutu. Vem também acompanhado de fantasmas, de Minas, naturalmente. Alguns de barbicha ou cavanhaque com os ventos que enfunaram caravelas portuguesas e a mão da negra, é claro. Após, vem fumegante o arroz branco. É quando repicam os sinos de uma igreja de Ouro Preto anunciando o lombo de porco assado. E quando vem a couve mineira refogadinha com alho, vê-se D.Olímpia caminhando do outro lado da calçada com seu bastão. Ouvem-se então sons de tropéis, é o alferes com a tropa em louca disparada. É hora da gloriosa cachaça com torresmo. E da lingüiça já nem vos falo, caro leitor, vem bem sequinha e estranhos suspiros e ais se ouvem é Gonzaga lembrando Marília. Mas não se impressionem. Degustem - Depois vem a sobremesa.
VENDO ESTRELAS COM UMA ESTRELA
Ver estrelas contigo finalmente me trouxe mais paz. Algumas poucas no início, estrelas difíceis entre nuvens no azul da Prussia. Mas foi aparecendo a Láctea e todo o universo estrelou no óleo do findante poente. Não contamos estrelas , falamos um pouco de nós, do ofício da arte da viagem que passa, do que pode vir no pincel. Depois lembrei-me de depressões, de desesperos, criativos nem sempre, mas que o trabalho exorcisa. Criação. Vendo estrelas com uma estrela.
A Pena
a correr a escrever escorreita escre ver escor regar ver ter te ver escre vendo
IN VINO VERITAS
Tocava um belo Rock and Roll e minha amiga ria embalada pelo vinho, ria, levantando a cabeça mostrando o belo pescoço e afiando os meus caninos. Ria agitando a cabeleira, realçando o azul da jugular e o vermelho do baton, enquanto os seios baloiçavam levemente sob a malha fina sem soutien, mostrando o seu desenho. Tocava um belo Rock and Roll e eu e minha amiga ríamos embalados pelo vinho e pela música envolvidos em vibrações in (comuns). Havia alguém perto, mas nem ligamos, sorvíamos o vinho e já era nossa alma que sorria.
ARACNÍDEA VULVA
Aracnídea vulva que atrais, seduz e prendes com teus pêlos delirantes e lascivos, ralos ao início do púbis, selva profunda mais abaixo, púberes aos treze e em qualquer idade com seus mistérios.
Venerada e vulnerável vulva, de pêlos, no Brasil na sua maioria morenos, mas há os louros mais escuros que os cabelos e ruivos surpreendentes e castanhos freqüentes e a palha de aço tezante das creoulas fabulosas, indecorosas. Aracnídea vulva, teces tua teia e corpos fremem por ti.
NA ALCOVA
Quando estivermos a sós na alcova, corpos quentes, abrasados, nús, quero comer teu amável ânus. Despudoradamente meter-lhe a língua à dentro.
Poder dizer-te: Vira amor, vira, e tu ansiosa e fremente porém naturalmente, virarás.
Quero poeticamente enrabar-te ao som de violinos, ou de um louco rock and roll ou no total silêncio da noite e mesmo ao sol do meio dia.
Ah meu amor, pênis erectus, lubrificado com saliva e uma pitada de sadismo no divino prazer em gloriosa penetração.
Nesta nádega que mais parece esculpida por Miguelângelo quero comer teu gentil cú, comme il faut, com todo sabor.
E tu gemerás, tu grunhirás, talvez gritemos, orgasticamente gritaremos. E lá no quente e no gostoso o gozo.
ELA
Lá vem ela, deliciosa, loura por dentro e se quiseres no inverno morena também. Ela é muito importante, senhora de muitos segredos, pactos, conversas, companheira de sempre. Lá vem ela, o gelo qual fina neve a cobrir-lhe a borda. Vem rápida que beleza pela mão do garçon gentil saciar a nossa sede.
Merecia uma poesia essa nossa cerveja.
A ARANHA
Quando eu estava redigindo em meu local de trabalho á luz da lua que brilhava, via no ângulo da janela com o telhado duas teias que se superpunham . Estavam tão entrelaçadas que não se sabia de qual aranha era uma ou outra. Mas quando um pequeno inseto caiu numa delas e a teia enorme balançou, então se viu á luz da lua de qual aranha era a teia mais poderosa. DA VINCI Chuva prateada de estrelas nos longos caminhos (cabelos) de Leonardo. Mago Da VINCI conhecedor de mistérios mestre da luz gênio diversificado espírito privilegiado que achaste a rota das estrelas na infinita engrenagem cósmica, tal qual meu pai Antônio desejou saber e hoje sabe na eternidade ao teu lado, ó espírito privilegiado, a humanidade procura resolver seus enigmas no enigmático sorriso de tua Giocunda.
MIGUELÂNGELO
"Façamos o homem á nossa imagem e semelhança" Disse Deus. Para que Miguelângelo o pinte e esculpa, disseram os anjos do céu. E o dedo de Deus estava na sua mão.
VELHAS TRAÇAS
Que venham velhas traças, velhas traças, devorar os meus papéis. Invisíveis traças, atravessando páginas, brochuras, bíblias, em minúsculos buraquinhos em bibliotecas da Babilônia, de Pequim, de Bizâncio, Nova York e Furquim.
Invisíveis traças no caos das letras do latim ao grego, do armênio ao português.
Traças shaskesparianas, traças aristotélicas, traças dantescas, balzaquianas, traças drummondianas.
Filosóficas traças, sábias traças, respeitáveis de tantas letras, empanturradas de tanto saber, proustianas a lembrar que o tempo existe.
SOLIDÃO
Querida solidão, luas minguantes, luas cheias, caminhos, caminhos. Solidão companheira e amarga, de amigos, família, amor. Solidão literária, necessária, condição humana. Solidão de noites dilaceradas, cósmica solidão das grandes noites, estrelas, quando tudo é claro. Esotérico estar só. Saber? Onde vou? Que fazer? Quem está vindo? Quem virá? Onde? Quando? Agora?
MORTE
Morte dizem que és fria com teus muitos véus e sem hora certa para chegar vinda das névoas e da sombra tenebrosa, ou que trabalhas aos poucos, compassadamente, metodicamente, sem pena, até o desfecho final. Bates na porta com seu sorriso cínico? Ou vens à cavalo como no Apocalipse? Ou sorrateira te instalas, ou vens disfarçada de algum estrangeiro ou de armadilha de aparência agradável. Alguém te enviou? Alguém te comanda? Podemos vencer-te? Quando ruge o vento na noite, e nuvens cobrem o luar e barulhos não identificáveis se ouvem, a não ser o pio da coruja e ao trovão o cabelo das crianças se arrepia, estás no éter, estás junto a nós? Podemos vencer-te?
EXISTIR
Existir, continuar existindo, convivendo com a dor do mundo e a nossa própria dor. E não há outra solução: continuar, existir, sentir no peito a emoção de estar vivo, caminhando no frio do poente, olhando as crianças que brincam e sorriem inocentes. O homem também é figura amorosa, capaz de ternura, de grandes gestos, apesar de fazer a guerra e deixar que a fome cresça. Cria, faz arte, se emociona, o que o coloca além da mera estupidez e da ignorância pretenciosa. Faz versos, pinta, compõe e toca, faz filmes, inventa, planta. Das cavernas avança tecnológica e cientificamente e não só destroe mas ama a natureza.
Continuar existindo, no poente, em outros poentes, o céu vermelho e a escuridão que vem, avançando sobre o mistério do mundo, enquanto passo por senhoras que vendem doces caseiros e canjica por entre bandeirinhas nas barraquinhas juninas, em benefício das obras sociais do bairro.
NOTURNO Um soneto louco
Nunca mais palavra sofrerei de amor antigo longa data
Não sou janota Nem no cemitério antigo Hoje aqui mesmo nesta data
Sorrirei de amor cantigas velhas, Tagarelices de monstros ao luar, Já no abismo da noite, que quimera.
Poderei sem cessar Repetir se quiser velhas canções Estações, Pânico, Revoluções. Não direi nada tenho a declarar Brilhos-Transformações
HOMENAGEM A ALPHONSUS
Lua de Mariana Lua alphonsiana a encher de luar cemitérios escuros na solidão das noites, na fantasmagoria barroca "sem mulheres de carnes brancas e frias", no sino de repente badalado, desse Brasil primitivo e ao mesmo tempo sofisticado, caminhando por essas pedras geladas, mandando embora essa angústia antiga, esse ceticismo, contra minha vontade, contra a esperança, como que uma força misteriosa, antagônica, estranha, ameaças de desespero controladas e essas pedras geladas e a noite e a noite e a febre e essas pedras geladas, Pobre Paulo, Pobre Paulo
MARIANA
Em Mariana tem umas casas tão lindas e há de repente mágica praça que tem um coreto secreto, embora no centro da praça se erga. São segredos de coisas, segredos do tempo. Batem os sinos, eu suspiro, além dos sinos Mariana, quero os seios. Janelas, madeiras, cores, varandas com ferros e flores, velhas pedras. São muitas as pedras de Mariana da catedral, de Mariana a eclesiástica, a doce Mariana, feminina para Ouro Preto. Mariana de sonhos, de bruma, Mariana de Alfhonsus, gostosa Mariana. Mariana primeira manhã, Mariana capital inicial, mineira Mariana, a órgão na catedral, Mariana universal.
POEMA PARA UMA MULHER QUE NÃO EXISTE
Foges na noite com teus olhos baços, tua tez pálida, tuas mãos geladas. Fantasma esvoaçante, trêmula, frágil, um riso de medo frio dessa madrugada, na névoa de olhares, tão pungentes. És como a morte que quer vir, és como a morte inevitável que quer viver e não pode morrer.
ÚLTIMO POEMA
Estou morto. Mais morto que todos os mortos do mundo. Mais morto que a mina de Morro Velho, mais morto que um Lima qualquer. Dentes encravados na caveira e mandíbula encaixada é o que talvez reste. Mais morto que Augusto dos Anjos que pelo menos é "uma sombra que vem de outras eras". Da tumba não voltarei, ao contrário de Drácula. Mais morto que trabalhador de Getúlio, mais morto que os índios do Brasil, que muitos sobrevivem. Morto, definitivamente morto. Mais morto que a moral burguesa, mais morto que o PT e pasmem, mais ainda que o PC do B. Não agonizarei como o PSDB, já passei desta. Mais morto que Dona Olímpia que é tema de samba-enredo. Mais que médicos e hospitais nacionais, incluindo o estado federado, falido, fedorento. E se isso é pouco, mais que o último cachaceiro do mais sórdido botequim. Mais morto que a Rede Ferroviária Federal e a esperança dos mendigos que sempre faturam algum. Mais que a Rede Tupi de Televisão, o Cassino da Urca e os meninos da Candelária. Mais que o primeiro computador, mais que os Matarazzo, mais, infinitamente mais que a decadência de Ouro Preto, a instituição familiar e o sacramento da confissão. Mais que o Zé do Caixão que anda pela avenida São João. Mais que Baile de Debutantes e de Glamour Girl. Nem as leis de mercado do Roberto Campos podem me salvar. Mais morto que o Mar Morto Mais que a velha república, mais morto que Tancredo. "Esqueçam tudo que eu escrevi". Joguem minhas cinzas em qualquer rio ou ribeirão podre e poluído deste país ou no mar próximo a Cubatão. Morto, absolutamente morto.
DEUS
Se somos criados à imagem e semelhança de Deus e se Deus tem amor pelos homens, sente ciúmes também.
E tantas estrelas no céu.
Maçã
Lápis e papel forma que se apresenta, música, cor ,letra, maçã a ser colhida, Poesia
Beata
Era tão pequena a beata ou se desintegrou ou alçou vôo, coitada
Torneiras
Todas as torneiras de minha casa estão estragadas, exceto uma que já não estava funcionando
Tropecei
Tropecei num poema de amor Fui eu ou a musa que falhou.
HAPPY HOUR
Anoitece nessa mítica cidade. As cores da noite transfiguram Ouro Preto. É hora de tomar um chopp gelado ali no velho bar do Toffolo Hotel e aguardar que Marília chegue.
TREM
Essa que se insinua é quem? É a poeta manjuba que louca vem te dar o trem
Um Para o Outro
Dois nobres caminham juntos na história: um é o Marquês de Sade e o outro o Barão Von Sach-Masoch. Parece que pessoalmente nunca se encontraram mas com certeza feitos um para o outro: Sado-Masoquismo
Brasileiro ?
Se Deus é brasileiro será que o diabo era americano-russo?
Os Cães e os Postes
Passo pelo odor fétido dos açougues empestiando o ar da tarde de sábado. O céu cinza-chumbo anuncia tempestade. Observo os postes manchados pelo mijo dos cães e nos bares os homens bebem cerveja e apesar da falta de esgotos no país, como os cães, também mijarão e dirão bobagens ao fim da tarde.
Poe
Sempre que no breu da noite atravesso misteriosa ponte, onde a temperatura é sempre mais fria, me arrepio todo, pois sinto que não estou só e ao sentir tal sensação imagino quem vem do outro lado. E com Edgar Allan Poe atravesso tal ponte
CIDADE do INTERIOR
Há uma calma bovina na cidade, marasmo do meio dia, panacéia do fim da tarde. Homens ruminam, só.
Erundina
A burguesia nos ofende, a burguesia nos condena, a burguesia quer chá, nós transformação já. Mas me disse Luiza Erundina ao elogiar seu discreto perfume: - É a burguesia tem bom gosto.
Meu tio Lulu com todo carinho
Será que Tio Lulu estava certo quando em seu leito de morte sua venerável esposa lhe disse: "Luís, a família está toda aqui reunida, o médico também". E ele já com o pé da cova respondeu: Família fé da puta, médico ladrão"
NESSA CALMA INFERNAL
Nessa calma infernal dos dias comuns de Ouro Preto a poesia virá, doce, tranqüila, explosiva nas horas certas, nas horas que perco com desejo de compor.
Como "sair dessas profundezas"? Com humor, amargo que não te envenene. Graça, acima do sarcasmo. Que não te afogue, beleza de horror desfeito. Riso do rir-se de você.
Do abismo venho ao abismo volto Mortal seria não voltar, mortal seria ficar sempre lá. Todos os bebês sabem nadar.
Nessa calma infernal de Ouro Preto dos dias comuns, a poesia virá.
VILARICACHAÇA
Ladeira abaixo Ladeira acima, cachaça, fogo, trovão Ouro Preto é isso aí. Ladeira, abaixo Ladeira acima, a estudantada encervejada, o mulherio, Ladeira abaixo ladeira acima, igreja pra todo lado, mel cachaça, limão, arnica, carqueja, canela, feijão tropeiro trovão, tempestade, chuva fina, neblina, ladeira abaixo ladeira acima, Liberdade, confusão, beata e procissão, cachaça, fogo, trovão, a cidade - o abismo Drummond - as nuvens - Ladeira abaixo ladeira acima, cachaça, fogo trovão Ouro Preto é isso aí.
JUNTO AO ABISMO EM VERTIGEM FORMIDÁVEL
Ao lado da igreja alto à direita, de Santa Ifigênia dos Negros, imensa, cheia, gira-avança, lentamente, à vista é possível perceber, a lua sobre Ouro Preto em nascer clássico, postal.
Junto ao abismo em vertigem formidável abro os braços, respiro e saúdo a paisagem.
PRA AJUDAR NA FOLIA
Em Ouro Preto o pecado é dourado os anjos têm sexo bum-bum cor de rosa nús nos altares
É rubro, é rubro barroco o sexo é vermelho bum-bum cor de rosa o pecado dourado no altar de Ouro Preto
O negro é negro o branco mulato o mulato branco o pecado dourado
Beijos sem fim beijos carmim oh querubins acordes - clarins O pecado é dourado na velha capital de Minas de bum-bum cor de rosa do anjinho barroco e é de todas as cores, inclusive o azul o infernal carnaval.
POEMA EM AZUL
Não mais a tristeza, não mais essa lua perdida. A lua e o brilho da estrela, por que não? Com manhãs radiosas de azul cor da glória e a espuma branca do mar nesse gozo eterno qual esperma fecundo e novamente a estrela e o azul da tarde e o lusco-fusco transição e a magia da pedra e o mel da vida nessa gigantesca noite, azul cor da glória, Manhã
POEMA EM VERDE
Verde de Lorca Verde montanha Eco-verde. Mistura de azul e amarelo. Aves pousam nos ramos da ainda Mata-Atlântica e a Amazônia polemiza o planeta. Green-Peace Fundo do mar, algas e plantas, grotões de frescor, água e ar puro, ervas, alface e agrião, verde abacate, verde limão.
POEMA EM AMARELO
Da cor do ouro, da gema, do cobre, do topázio, do enxofre. Ó sois-trigais, corvos no amarelo vangoguiano em pinceladas rápidas. Cor oposta à treva, iluminação e por isso mesmo desespero que cegou Saulo na estrada de Damasco, e com o branco vaticana cor. Cor de cabelos-raios de sol, radiação eletromagnética.
POEMA EM ROXO
Pesa o roxo, dos quais muitos têm medo; morte e apaziguamento. Ousados são os que te usam em vida, seja nas roupas, nos ateliers, em objetos. Roxo sinal em paramentos eclesiásticos, púrpura cardinalícia, fita de caixão. Cor tabu a alguns -Roxo, Deus me livre! Para outros infinito, suave e forte em seus vários matizes, de leve colorindo o poente ainda claro. De gustibus et coloribus non esd disputandum!
POEMA EM PRETO E VERMELHO
Black, Noir, Nero, Red, Rouge, Russo. A treva e o grito. Black mistério, vermelho energia. O negro veludo e a escarlate seda. Sombras, vultos, o outro lado, profundo, profundo. Bandeira Anarquista, Bandeira Socialista, majestade das trevas, fascínio do inferno, Magia, terror, sabedoria. Nosso sol negro contra um céu vermelho.
ROSA
Rosa que és Guimarães que não és outro senão tu. Rosa impressa em lombos de mulas, em velhos arreios, barrigueiras, estribos e couros diversos, observados por lunetas poderosas, perspicazes, obscecadas, com botas diferentes das dos homens que o cercam. São homens de chapéus diversos, de canivete, fumo de rôlo, palha, cachaça, facão, sandália de couro e espora, perneira, pés descalços, bota galomeira. Ao final do dia, ao pé do fogo na chapada onde se faz o rango, entre uma cachaçinha e outra, sob a lua, inundado de planeta, Guimarães faz anotações e sonha.
MINHA PRIMA CRISTIANA
Minha prima Cristiana, cresceu tanto, cresceu tanto, Ah como cresceu - que quase chegou no céu. Ela diz já estar nas nuvens, no vento, no espaço. E ao final da tarde no céu ainda azul com os vários matizes que anunciam a noite, surge a primeira estrela com seu brilho nítido. E logo surgem constelações que cercam Cristiana e uma guirlanda de estrelas mistura-se aos seus cabelos e Cristiana brilha nos céus.
Pra que Pra que existe o choro se não pra ser chorado
Pra que existe a vida se não pra ser vivida Pra que existe o riso se não pra gargalhar
Pra que existe o perdão se não pra perdoar
Pra que existe o sonho se não pra ser vivido
Pra que existe a mulher se não pra se amar
Pra que existe a dor pra que, pra que, pra que
Pra que existe Vinícius se não pra abençoar
O OLHAR DE PRISCILA
Após a noite de amor enfeitiçado por aquele olhar, ponto crucial que não sabia desvendar, subindo em desespero, despencando de amor, André na madrugada, ainda um pouco sofrido adolescente, pensa até na morte em incerteza cruel - Aqueles olhos... Deixa eu sonhar... Qual a melhor parte do sonho? É sonhar teu corpo... qual a melhor parte do teu corpo? O amor cega, fere, machuca, sangra, despedaça. Sonho, pesadelo, despenhadeiro. Possa a voz, palavra, truncada ou acelerada, acelerando o coração. E teus olhos... Enigma oh silêncio! A melhor parte do sonho é aquela que a gente vai viver.
Atuando
ATO TEATO ATOR ATUAR ATUAÇÃO AÇÃO ATUANDO ANDO ACENANDO A CENA TRANSFORMANDO MUNDOANDO
ZÉ
Celso Martinez Zé Araraquara Corrêa Zé cometa Zé de Andrade Oswald Zé Borghi Zé Stanislavisk Kusnet Zé Jaceguay 520 Zé bigorna Zé Zuria Zé Nandi de Andrade Heloísa Zé pequeno-burguês j.c.-j. cristo Zé Peixoto Fernando Brecht Zé Tessy Zé Suzi Zé Alice Vergueiro Zé Roda Viva Zé 25 zoom zé Zé Samuca Zé Luca Bagdá Zé Henricão Zé côro Zé Malina-Beck Zé Portugal Zé Galileo Zé Brasil Zé Eu Zé Brecha Zé Marcelo Zé Tupi, be be to be pi pi ZEEEEEEEEEEEEEEE- ZEN ZÉ Com muito amor, carinho, fé o Paulo Augusto
MAMBERTIS
No início era Sérgio, a cidade de Santos, Cláudio, o Nôno. E Sérgio paraiva Bela Vista, Bexiga, Paulicéia. Ele e o teatro. Num passe de mágica surge Vivien E vieram Duda Carlinhos Fabrício. Ao tempo do Living Theatre sempre em casa de Serginho, surgem Tigres da Noite, Mitota, Petraglia, Clóvis, Última Peça pra sempre a próxima. Vivien torna-se Heart Smile. E ali na Bela Vista Ruth Escobar ao lado sobre o Bexiga e São Paulo a Casa tem uma ponte tem uma ponte a Casa a Casa tem uma ponte e hoje tem um neto
Ali a opressão não vinga, ali a liberdade floresce, ali é uma casa Mamberti.
FOGO
Fogo, fogo aqui, ali em todo lugar. Estou sentado na fogueira, estou fumando e é bom. Eu, hoje.
REVOLUÇÕES
Vamos fazer revoluções e a poesia vai ser importante. Vamos fazer revoluções e a poesia vai ajudar. Verso e luz na reunião Vamos fazer revoluções verso era e é forma de lutar. com a ajuda do Ferreira Gullar Vamos fazer revoluções e a poesia vai ser importante. Vamos fazer revoluções e a poesia vai valer, o Tiago de Melo vai crer. Vamos fazer revoluções o verso e a emoção popular. Vamos fazer revoluções com lirismo revolucionário. Vamos fazer revoluções e a poesia vai ser importante. Vamos fazer revoluções com o verbo a caminhar.
LIVING
Tudo está feito, nova etapa, novas chaves.
Mas a evolução continua, através dos dias, através dos anos, através dos séculos, através dos milênios, através das revoluções por minuto, através das revoluções por segundo, decifrando, mistérios, entendendo aparências, mudando impossibilidades, conhecendo a morte, VIVENDO
Tremelicando
As carnes balançando ela passou. Seios, bunda tudo tremelicava e vai com a certeza de quem se sabe observada. A bunda gelatina firme fazia aqueles movimentos de um lado para o outro e de encontro ao meio. Um dos seios o apalpou, as coxas esculturalmente à mostra "naquela" mini-saia, numa super mini-saia e ainda por cima de óculos escuros Será burra? Tremelicar é preciso Viver não é preciso.
Realizando Fantasias
Nédia nádega branca, rêgo de pelos marrons que acariciava com a língua com intenções eróticas e lubrificantes
Ela ofegante de joelhos com os braços apoiados na cama, a nádega mais levantada antes do momento fatal. A mão no clitóris em consonância com a zona erógena do ânus.
Não fazia grandes ruídos, estava se iniciando, ou por questão de temperamento. Mas num determinado momento dizia: Vou gozar.
Eu em consonância cósmica dizia: Eu também, eu também.
Às vezes íamos à sala de jantar onde o banquete era ela deitada sobre a mesa para penetração frontal ou não
Uma vez eu ia indo embora já tarde e ela abriu bruscamente meu cinto e minha barguilha me obrigando a ficar.
Muitas vezes ficava nua em pêlo dentro do automóvel estacionado na madrugada. Realizar fantasias
Felatio Árduo Poema em Prosa
Cupido
E disparou do arco uma flecha com tal ímpeto como se quisesse trespassar mil corações Shakespere Estávamos em pé, nus Ela foi descendo e começou a sugá-lo com tal ânimo que cravou-me os dentes na cabeça de tal maneira que soltei um aaaaaaaaahhhhhhhh meio surpreso, meio assustado achando que ela fosse arrancá-la. Ela continuou a chupá-lo com tal voracidade, engolindo-o até a garganta, no meio da boca, e lambendo e sugando a carnosa e vermelha cabeça e gemia e grunhia com tal volúpia, estava possessa, passava o membro pelos lábios, pela boca toda, levando até os seios, apertando e esfregando como pomba gira enlouquecida, e novamente levando-o à boca suspirando e gemendo, fazendo com a mão o gesto de ir e vir e novamente os lábios, os seios em frenéticos movimentos alucinantes, Quando o orgasmo veio e o líquido fluiu, num gesto repentino e instintivo, ela virou o rosto para o lado e com a boca aberta num som de, arrrrrrrrrrrrrrr expeliu parte do líquido e ainda voltou rapidamente para sugar o resto.
Depois atirou-se no leito, em silêncio, talvez atônita consigo mesma. Exorcismo através do sexo. Puxa, que garota. Nem no Living Theatre Glória.
PASSAGEM
A casa, o campo, a água, telas, tintas, lápis, papel, cachaça, fumo do bão, gengibre pra se mascar, arroz integral com curry no fogão, uma vela ritualisticamente acesa e a noite densa de Minas avança povoada de fantasmas. Repica o sino da igrejinha de Passagem de Mariana e os fantasmas da noite de Minas gelam-me o sangue, arrepiam-me a pele. Velhos fantasmas, conheço-os desde o berço, fantasmas de barbicha ou cavanhaque, engraçados fantasmas, fantasmas com os ventos que enfunaram caravelas portuguesas, fantasmas que chibatearam pretos que batearam ouro à sombra do Itacolomi e enriqueceram rapidamente na vertigem do ouro em que fostes nascida, Minas Gerais.
Na noite, ao longe apita o trem de Minas - vem carregado de nostalgias, carregado de paixão, puxado por velha locomotiva diesel dos tempos ditos modernos e faz nos entrar pelas narinas o cheiro das antigas estações de óleo, de ferro, carvão, cheiro antigo de passado, RFFSA, Leopoldina, Rede Mineira, Central do Brasil, apita ao longe, levando minério.
Seja às margens do São Francisco ou do Rio das Velhas ou nas cabeceiras da Mantiqueira, tu és Minas Gerais uma velha e decadente puta com teu nariz de bruxa assustando o Brasil. Hora te apresentas de moralista hipócrita, esquecendo-se da liberdade, hora de tradicionalista conservadora.
Poderá o mar do Espírito Santo te salvar? Ou são em vão os uffanismos dos teus bacharéis de Direito? Ó puta velha! Já fostes inocente, antes que abrisses tuas entranhas para os primeiros homens que aqui chegaram e o teu ouro os corrompeu - Apelarás para a ativez do Itacolomi enquanto Ouro Preto cai aos pedaços? Ainda crês em teus políticos com seus ternos cotidianos de suvaqueira fedorenta?
Ó camofa das tradições, é hora de enfrentar o mundo - Mas há a beleza de tuas montanhas: Quando como disse Alphonsus renascerás dos sonhos do passado mais bela do que antes para que teus espíritos fiquem em paz? Ó Minas libertária!
E o trem de Minas apita na noite. Noite, Noite, Grande Noite
CAMINHO El Camino se hace ao caminar
Já vivi nas cavernas, já matei animais ferozes com as mãos, já vivi nú pelas florestas, já construi colunas de vários tipos e também impérios que se passaram. Eu sou o homem, eu faço a história, eu mudo. Tenho amado de mil maneiras e da mesma forma temos nascido e morrido trilhões de homens. Já usei o cabelo de todos os modos: encaracolados, lisos, amarrados, soltos, com coque, rabo e cacheados. Eu faço a história, eu sou um homem, eu mudo. Já usei túnicas egípcias, armaduras de bronze, mil chapéus me cingiram a cabeça. Sapatos de todos os tipos, botas de sete léguas, tamancos, sandálias e também os pés nús usei, passo a passo, salto a salto no caminho. Todas as cores me vestiram e trago no corpo a sorte de cada uma delas. Colares, anéis e balangandãs de todas as civilizações também trago em meu corpo e o destino da mesma raça. Eu faço a história, eu mudo Tive que beber a cicuta na Grécia, fui grande, ridículo e decadente em Roma. Sofri o obscurantismo da inquisição, fui queimado vivo quando tinha a história, a verdade nas mãos. Singrei os mares nunca d'antes navegados povoados de monstros e perigos e descobri novos mundos. Tentaram me tirar o telescópio quando descobri a verdade sobre o movimento das estrelas. Eu quebro as correntes que sempre acorrentaram os meus pés, as minhas mãos e o meu pensamento através da história. A peste emocional e o medo quase me paralisaram quando fiz grandes descobertas sobre a vida sexual do homem, sua condição para a saúde do corpo e da mente.
Maravilhas tecnológicas nunca sonhadas nos fazem anteviver o futuro, mas a luta ecológica se faz necessária e é terrível.
Do cavalo, à roda, ao carro de boi, à máquina, ao jato, à nave espacial, ao computador, nós homens e mulheres, fazemos a história. Caminho, caminho, tudo novo.
ETAPA
Um passo muito importante. Passagem. E continuamos indo em frente, na casa no sonho na arte no coração da civilização, dialeticamente. Simples. É isso aí. Fizemos o impossível.
LINDA CAMINHADA
Fizemos o impossível, de lado a lado, de frente a frente, cosmicamente. Enfrentamos o estouro do absoluto e complicadas teias. Abrimos caixas perigosas, criamos, estudamos, observamos. Fizemos o impossível. Estivemos presos, sofremos, tristes abandonos, frustrações, repressões momentos terríveis, mas fé. Daqui pra frente, desses momentos históricos, a vida é diferente. Como é importante o silêncio, dialeticamente como fala e como é importante a palavra na hora certa.
Sem querer tudo desafiamos e ousamos. Derrota e vitória, humilhação e glória. Fizemos o impossível, cosmicamente, Ah liberdade
"VIAJAR AINDA É VIAJAR"
Caminhar na neblina rumo ao passado, transfigurações de côres em Ouro Preto, Anjos do Senhor, sinos, na cidade abissal,
Caminhar na neblina rumo ao futuro, ruas úmidas e a pedra de cantaria resiste bravamente ao tempo. Noite deliciosamente ouropretana na luz difusa dos lampiões.
Caminhar na neblina rumo ao passado, ver os anjos de Antônio Dias, descer a escadinha rumo ao Pilar, descobrir um segredo em cada esquina, beber sabedoria nos chafarizes, e uma cachaça com arnica no célebre bar do Raimundo que ninguém é de ferro.
De várias partes Vislumbrar o Itacolomi, passar pelas repúblicas, cruzar Marílias novas, desvendar mistérios, entre lendas, jardins nas encostas, pontes.
Caminhar na neblina rumo ao futuro e saber que atravessaremos cachoeiras, navegaremos rios perigosos, travaremos embates nas grandes cidades, defenderemos florestas, iremos ao campo e o frescor das matas nos acariciará a face. Ínfimos e grandes momentos dessa eterna viagem. Representaremos nossa peça e o cenário é Ouro Preto.
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