VULTOS DA NOSSA HISTÓRIA |
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"Uma história é feita de heróis. Nossa fértil imaginação os pinta de várias nuances, de acordo com nossas expectativas, nossos anseios, nosso próprio espírito aventureiro e sonhador. Mas o heroísmo não repousa só no ato público, passível de reconhecimento e aplauso. Muitas vezes ele se dá no silêncio do anonimato no recôndito de quatro paredes, sem aplausos, sem medalhas tendo como galardão somente a ovação da consciência tranquila e o sorriso certeiro de Deus. São heróis de vários episódios ou de um só feito; de armas exuberantes ou rústicas, mas sempre heróis. Mas,afinal, o que é ser um herói? È empunhar uma arma, ou desarmar a todos? È ter sempre o grito e o arrojo ou usar como espada o silêncio e o labor das maõs. È batalhar por mudanças ou querer preservar aquilo que é memória?
Heróis são todos os que, de uma forma ou de outra se lançam sem medo na luta pela melhoria de vida de seus semelhantes. Que não temem a hostilidade, a crítica, a incompreensão quando o que está em jogo é o bem comum e a promoção do ser humano. Que não conhecem o cansaço, não temem o fracasso e mesmo quando não bem sucedidos, têm coragem para deterem - se e, tirando proveito de seus próprios insucessos recomeçar sempre, pelo bem de outros. È saber transformar obstáculos em rochas a escalar, desafetos em companheiros que incentivam, problemas em soluções. È querer, ousar, tentar e fazer.
Itamarandiba, ao longo de seus 332 anos está cheia deles. Uns ilustres e decantados conhecidos; outros, encerrados em seu anônimo labor, como abelhas a fabricar no interior da colméia o mel que adoçará a vida de quem talvez nunca lhe venha conhecer ou agradecer.
A terra presta a eles a homenagem de gratidão, como a mãe que agracia com o afago do reconhecimento o filho que tornou profícua a casa, embalando no berço do progresso seus outros irmãos. São muitos corações, muitas vozes, muitas mãos; maõs que capinam, que trouxeram a vida, que criaram em linhas tortuosas a magia dos poemas. Mãos que dedilharam pinhos, deram vida a acordeões, pistões, violinos... mãos que regeram coros... vozes que encheram de amor as madrugadas e de lágrimas saudosas muitos olhos... que adornaram de pompa os festejos religiosos... pés que encantaram gerações nos gramados pobres do pasto de Sá Virginia e da Tacila.
Gestos que acenderam luzes e apagaram sofrimentos....Mãos, pés, vozes, corações... Através deles Itamarandiba caminhou, falou, cantou, criou, amou.
Muitos destes gestos se calaram. Muitas mãos, pés, vozes e corações se quedaram unidos no fim da jornada terrena, aconchegados pela terra mae que os cobre. Hoje, esta terra os faz desfilar na memória de seus irmãos e rende a eles o mais honroso preito de gratidão e apreço. E lança seu olhar à procura de outras mãos, pés, bocas e corações que se apaixonem pela terra e sintam no seu íntimo aquele ardor, aquela gana de servir, aquela paixão pelo fazer que só os heróis têm."
(Luiz André Costa) |
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