MÃO GRANDE |
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Manteiga de Moeda
Tens às vezes o colesterol tirânico Do sabor encerras farras e sobremesas De pernis e doces sobre a mesa Sobra a manteiga pra outros fins
Mas sobre essa volúpia Inda acerta a tristeza U home qui é home Dos garfos, poucos vestidos e pecados
É doido por tempero de cebola roxa Rebola morena roxa na coxa do chamêgo E sabe que breá de manteiga é banhá com leite O feitiço que mantêm a lenha pro fogão aceso.
Seu Menés,
O professor Antônio descia a Moeda, como de costume, e aquele dia seria igual a todos os outros, se não fosse o se seguir: Quem é o dono dessas terras ? - foi a pergunta que o professor ouviu vindo do nada, do invisível. Assustado parou a marcha e encostou o burro. Talvez fosse o espumante que tomou à vontade na noite anterior em Ouro Preto, depois da assembléia republicana. Estava animado demais! O imperador não tinha mais como se manter no poder. Mesmo assim respondeu: É o povo. O povo é dono dessas terras. Seguiu caminho e já era a Vargem Alegre. Ao passar pelo portão ouviu o Aparício gritando lá de dentro: Tem carta pru sinhô. O professor tomou a carta na mão. Seguiu para cozinha, onde abriu uma moringa d'água e matou sua sede. Balançava a carta no ar. Sentou-se na mesa enorme, empurrou o cesto de frutas e com uma faca rompeu o selo da carta.
Quem é dono dessas terras ? - estava escrito.
Diabos ! - resmungou. Era a mesma pergunta que ouviu vindo do nada ao descer a serra. "Aparício, vem cá. Quem deixou essa carta aqui ?" O negro foi logo respondendo: "Ai, num sei não sinhô. Tava vindo com umas galinha na mão pra Francelina matá, quando dei de cara com a carta na soleira."
Já era tarde e depois de revirar o sobrenatural da pergunta, o professor resolveu dormir.
O professor estudou com os padres lá em Mariana. Tinha cara de padre, mas não era padre. Queria ter estudado no Caraça, mas foi em Mariana que a vida lhe reservou uma grande surpresa - o seu segredo. Foi lá, remexendo escombros e descobrindo esconderijos, que acabou encontrando uma parte desconhecida da biblioteca do Cônego Vieira. Ninguém sabe essa estória. Em Moeda, se dedicou à vida no campo, mas ainda saía de casa para ensinar as crianças, moços e moças. Naquele dia, após formar sua roda, andou em torno de si pensativo e perguntou.
De quem são essa terras?
As crianças olhavam umas para outras, queriam saber quais terras, de onde até onde, multiplicaram as dúvidas e uns chegaram ao "não sei". Os moços e as moças diziam o nome das fazendas e o nome dos proprietários, os rancheiros, sitiantes, os moradores mais pobres - dono de seus casebres e até aos andarilhos e pobres de cristo deram os caminhos. Foi quando um moleque, o filho da D. Zica, sem pedir licença, tremeu batendo queixo e num arregalado mostrou os olhos virados. Se atreveu : "É tudo do Sobreira !" Não precisava! Um raio e um estrondo fecharam o céu e anoiteceu em pleno dia. Todo mundo corria, a aula tinha acabado, a água descia do céu. Que nome carregado ! O professor fugiu da chuva pensando em Manuel Teixeira Sobreira... O Sobrenatural tinha ficado.
II
Esse Sobreira, que tinha nome falso na região diamantina, contrabandeou dois chifres entupidos de diamante e duas garrafas de ouro para os lados do Paraopeba. Aqui, se pudesse, criava um reino. Poderoso, acumulava terras e horrores. Era duro e autoritário, matava, porque isso não era o mais difícil. O mais difícil foi ter que enterrar o seu tesouro. Quando o Visconde de Barbacena chegou em Minas, correram até sua fazenda pra avisar que o mesmo vinha com ordens para lançar a derrama. E logo ele, que era português, pra ser tratado como um brasileirol. Enterrou o tesouro e ninguém sabe onde. Nem eu sei quem soubesse.
Dizem que fez sofrer até a filha, linda e apaixonada por um alfaiate. Quanto ultraje! Desfez do moço e desfez de novo, mandando matá-lo barbaramente. O artesão era um condenado a trabalhar com as mãos. Ao nobres o ócio e um título. Aquilo não era gente pra sua família e ponto. Sobrôça.
Em Ouro Preto, o poeta Critilo, andava escrevendo uns versos, criticando os mandos e desmandos na capitania. Alguns versos chegaram até Sobreira, que logo se reconheceu e reconheceu erradamente a autoria da filha. O homem do mal é sempre acometido de vinganças. As que lhe convêm no tempo que vem. Sobreira era muito ignorante, para desconfiar do Ouvidor Gonzaga. Mas as letras tão bem desenhadas na sua literatura, eram formosas demais para o seu discurso de comando. Era coisa de mulher. Era coisa da filha, só porque tinha matado o moço. Sobrôça. Mas a vingança do malvado é vingada pelo malvado. Fez e acreditou que era coisa da moça e um desgosto amargo desceu-lhe a garganta. Não antes, do veneno de sua própria ignorância conceder um último pensamento vingativo. A filha ficaria fora do testamento. Morreu antes de escrever o mesmo. De nada adiantaria, pois o segredo do tesouro, ninguém soube e ninguém sabe. Ou sabe?
O silêncio me invade E sou a madrugada
O silêncio é vadio E sou a morte por um fio
O silêncio da espada No corte mais frio De corte assimétrico Na carne estraçalhada
É noite e o diabo solta suas gargalhadas!
Amanhã, e só amanhã Se o dia me disser que estou vivo Vou de olho arrremessado no olhar sombrio Morrrer de tédio Nesse mundo vazio
Estou cedendo Padecendo
As falácias Ficando mais estúpidas.
Inácia! Inácia! Vem mãe véia! Véia preta Preta rubrada de sangue Mascar o fumo pra curar picada de abelha.
Mel Dor...
Quero encontrá-la e dizer Eu te amo
Quero encontrá-lo e dizer Conte comigo
Quero encontrá-los e dizer Nós conseguimos
Quero encontrá-las sem dizer Quero querer de querer
O nada Quase nada Que Deus me diz que é tudo E eu?
Pareço e quase confesso Não creio Não tenhbo fé Sempre minto.
É o calor do inferno Não é a brisa do paraíso É a dor do nada Não digo o que sinto
Depois que o Zé morreu Mão Grande não sustentou o corpo O chão balançou E o céu pesou sobre sua cabeça Antes que aconteça, E trágico fique Chamem o curandeiro de Moçambique! Logo o Zé! Zé do povo Que tinha nome gravado na esperança Que tinha sorriso de criança Que acreditava no homem O Zé morreu, porque descobriu a maior desgraça Enquanto a turba passa, o homem come outro homem E o tabuleiro fica parecendo meia noite na praça Só rei, só rainha - só as estátuas Peão mesmo, morre cedo Porque desde cedo Sabe de si, peça sem importância Que terrível ! Mandaram o Zé embora E sem poder alimentar a senhora Grave ... Não houve nada, senão a triste constatação Mundo cruel O Zé suicidou, pulando daquela ponte lá no céu. Mão Grande não acreditou: Se o Zé não aguentou, Como posso eu Com ar de europeu e água quente da África Suportar esse brasil, ardendo carvão em banheira de cobre ? Sem cobre Pobre Pobre... Pobre mundo sem esperança Sem humanismo Sem amor
Ah Deus dos Mineiros Deus de Minas Cava mais uma vez as profundezas Mesmo que sejam lágrimas de ouro Vertendo dos buracos ao golpe do almocrafe E que a pá sirva para catar tais riquezas E não para acertar a sepultura!
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