IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO |
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Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição
Descrição: A história da Igreja Matriz de Matias Cardoso está ligada a incursões de bandeirantes paulistas no sertão mineiro em busca de ouro e pedras preciosas. Januário Cardoso foi o principal benfeitor do arraial, assim como edificador da igreja, provavelmente construída entre 1670 e 1673. Curiosa edificação, em forma de fortaleza, com estrutura auto portante em alvenaria de tijolos requeimados, apresenta duas torres laterais, quadrangulares, tendo coruchéus nos quatro ângulos e pináculo como cumeeira. Cercando a construção, muro com colunas nos ângulos e nos portões. Lateralmente a igreja apresenta uma sucessão de arcos semicirculares, formando um avarandado no térreo, sob os corredores superiores.
Ligado pela memória oral à fundação do antigo povoado de Morrinhos e à construção da igreja desde sua chegada, Mathias Cardoso de Almeida veio, trazendo um grupo de negros, de Porto Seguro, junto com outros brancos entre eles portugueses. Instalou-se primeiramente na margem do rio Verde Grande, mas a área onde começou a ser implantado o arraial foi inundada por uma cheia do rio, levando-o a transferir a construção do mesmo para outro lugar nas margens do rio São Francisco. Novamente uma enorme cheia invadiu o arraial em construção. Conversando com outros membros de seu grupo, o fundador perguntou: "o que nós vamos fazer?" Outros disseram: "agora que a gente não pode mais ficar lá em baixo e nós estamos aqui em cima e como nós estamos tirando pedra e cal e fazendo tijolos aqui, vamos ficar por aqui mesmo". O arraial e sua igreja foram então construídos, em um lugar mais elevado, nas proximidades de três morrinhos dando origem a atual cidade e que serviu do topônimo ao arraial nascente. Seu Francisco Cardoso, narrando a história da raiz da cidade também informa que "o grupo que chegou de Porto Seguro começou a construir essa igreja daqui e quem terminou sua construção foi um parente meu, dos antigos, Januário Cardoso". A história da raiz se contada pelos moradores, informa que seu fundador e construtor inicial da igreja foi realmente o Mestre de Campo Mathias Cardoso de Almeida, que por três momentos distintos deu início à construção do arraial e da igreja de Nossa Senhora da Conceição, devido às cheias do rio Verde Grande e do rio São Francisco que impediam a complementação da empreitada. Enquanto que na históriografia, Diogo de Vasconcelos (1900), Urbino Viana (1935), Affonso de Taunay (1948) e Brasiliano Braz (1977) informam que o arraial de Mathias Cardoso não coincide com o arraial de Morrinhos, que teria sido fundado e construído inicialmente por Januário Cardoso, assim como a sua igreja. Para Salomão de Vasconcellos (1944) e Simeão Ribeiro Pires (1979) há coincidência com a narrativa guardada pela memória oral dos matienses. Tão logo se viu que a nova posição do arraial estava imune a inundações, deu-se início a sua construção e da igreja, efetivada sobre as ordens de Mathias Cardoso de Almeida, que também mandou erguer um enorme muro de pedras com aproximadamente quatro metros de altura e cujos fragmentos ainda eram encontrados por volta dos anos 1960. Todo o trabalho foi realizado com mão-de-obra de pretos e de caboclos aprisionados em seus confrontos com o grupo fundador em suas andanças pelas matas da região. E também pelo aprisionamento daqueles que se aventurassem a percorrer o rio São Francisco, descendo ou subindo de canoa e que vistos, ao longe, do posto de observação em cima de um dos morrinhos, possibilitava acionar um grupo armado para aprisioná-los. Quando os negros e caboclos escravizados não estavam mais produzindo aquilo que deles se esperava, eram jogado vivos numa das lagoas existentes dentro da área delimitada pelo murro de pedras e cujo nome, Lagoa das Piranhas, informa a morte cruel desses infelizes. Ao mesmo tempo, Mathias Cardoso mandou cavar vários túneis que possibilitariam a fuga em caso de ataque ao arraial. Se pegos de surpresa dentro do próprio arraial, havia um túnel que ligava a casa principal à igreja. Esta foi construída numa concepção que conjugava sua função religiosa com a de um forte, nela há diversos seteiros, propícios à sua defesa, e posicionado como o último bastião a cair para que os moradores de Morrinhos fossem vencidos. E mesmo se vencidos, havia um segundo túnel que passando por baixo do rio São Francisco possibilitaria a fuga para o outro lado do mesmo rio até uma colina aí existente. E, finalmente, um terceiro túnel que unia o arraial de Morrinhos ao arraial de Pedras de Baixo. Em uma semana santa, uma dentre tantas quando todos os paulistas e baianos povoadores brancos dos Currais da Bahia se encontravam anualmente, Mathias Cardoso conheceu a Maria da Cruz, casada com seu parente e moradora do segundo povoado. Apaixonaram-se um pelo outro e decidiram cavar um túnel que possibilitasse os seus encontros sem que ninguém soubesse. Para guardar o segredo, todos aqueles que trabalhassem na sua construção seriam depois mortos. De uma das grutas existentes nos morrinhos, o Mestre de Campo direcionou o seu túnel para Pedras de Baixo e Maria da Cruz, a partir de um quatro em sua casa da fazenda, em direção a Morrinhos, até que se encontram um com o outro. Por esse túnel com aproximadamente duzentos quilômetros, os dois se visitavam e na ocasião levavam em seus bornais rapadura, farinha, paçoca de carne seca, frutas e água para se alimentarem. No meio do caminho entre os dois lugares, dentro do túnel, se encontravam e passavam dias namorando. Dessa paixão secreta nasceu um filho que junto com a mãe foi um dos líderes da Conjuração Sanfranciscana em 1736. |
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