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SEBASTIÃO BENTO
E-mail: SBP.Jequi@yahoo.com.br


Sebastião Bento é tipógrafo em Jequitinhonha desde de criança. Aos dez anos, na oficina tipográfica do senhor Adalício Chaves, aprendia a compor usando tipo móveis, a imprimir valendo-se de uma prensa manual. Nas horas de distração, desenhava letras grandes em faixas e cartazes de cinema. E mais: no cinema do senhor Zoroastro, era ele mesmo, Sebastião Bento, quem exibia, quem punha para rodar as películas de16 mm.
O cinema acabou nos idos de 1980, mas a tipografia e o desenho das letras ainda fazem parte da rotina de Sebastião Bento, que hoje está com 67 anos. Porém assim, como o homem, a maquina-a técnica-envelhece. A pequena impressora manual de Sebastião, a''feijãozinho'' que é a mesma de quando ele era criança, e que já havia dado sinal de cansaço diante das gráficas modernas e seu sistema off-set, agora parece agonizar ante a presença de uma maquina muito mais poderosa: o computador. Adeus, cartões de visita, convite de casamento, livros de poesia. Quase não se fazem mais impressos em tipografia.
Adeus também pelo jornal editado pelo doutor Júlio de Lucena Pereira que, tendo o formato de uma folha de ofício e quatro páginas, demorava uma semana para ser impresso. Uma semana inteira dedicada à tiragem de um jornal, isso é coisa do passado. Atualmente Sebastião Bento encontra-se descrente do futuro (do presente: o que terá sido) da tipografia. Além do mais, seus tipos estão ''redondos'', gastos, já não imprime com qualidade. Os rolos da máquina precisam ser reformados, e tudo é muito difícil, segundo ele. Com isso, Bento tem se dedicado mais a seu outro ofício (que, no fim das contas, é o mesmo do tipógrafo ): o de desenhar letras em faixas e cartazes. Além disso, pinta telas que podem eventualmelte ser vendidas.
A tipografia também parece estar à venda. Sebastião Bento intui que tipos, cavaletes, gavetas, bolandeira, chaves cunhas e todo o material branco vão, junto com a impressora, para um museu. Há tristeza nessa idéia, mas comercialmente a tipografia dá seus derradeiros passos. Mas será esta a saída, um museu?
Bem, pelo menos para uma outra tipografia, de uma cidade não muito distante da Jequitinhonha de Sebastião Bento, sim, esta foi a saída -ou o fim.

Texto extraído do Suplemento Literário - Jequitinhonha com todas as letras - Sérgio Antônio Silva.

(Em 2006, sem apoio local, Sebastião Bento vendeu as máquinas para um comprador de Belo Horizonte, perdendo Jequitinhonha parte de sua história.)